Às vezes uma profusão de pensamentos me invade e até me incomodam. São lembranças dos tempos que vivi e elas tomam conta dos meus momentos e me deixam inconsciente do presente. Pessoas com quem convivi aparecem no meu pensamento e minha atenção se prende a elas. Isso não é motivo para ficar melancólico, mas eu fico.
Tudo me vem a parecer que eu vivia no mundo e agora não vivo mais e ele existe sem eu. Parece que vivo nele estando distante dele. Esse estado d’alma às vezes me desanima e me faz pensar que a vida é só para acumular recordações até quando ela termina. As recordações, elas ficam aguardando nos bastidores do palco das nossas vidas e quando se apresentam é sempre com o mesmo enredo de quando foram gravadas na memória.
Tudo em que vivemos, tudo em que participamos e que com alegria ou tristeza nós nos emocionamos deixaram de existir assim que foram se transformando em passado. Deixaram de existir no mundo, mas não nas nossas cabeças. A nossa memória que é um museu particular, ela é inacessível para outros porque contém em seu acervo relíquias existenciais que só interessam para nós.
Havia uma música de carnaval que se cantava assim “Recordar é viver, Eu ontem sonhei com você. Eu sonhei meu grande amor, Que você foi embora e logo depois voltou...” (risos). Entretanto, nem sempre “recordar é viver” porque existem recordações que só aparecem para estragar a tranquilidade mental. Inclusive as recordações de pessoas que nos decepcionaram e não gostamos de lembrar-se delas (risos). E agora, depois de ter lido este texto tem alguém se lembrando de alguém que não quer se recordar?
Altino Olimpio