Nós quando vamos ao cinema e assistimos um filme,
ele nos produz entretenimento. Concentrados assistindo as cenas que se desenrolam,
somos envolvidos por elas. “Vivendo-as” nos esquecemos de nós
mesmos. Nossa consciência receptiva ao filme, se introduz no seu enredo
e nos abandona da lembrança sobre quem somos. Não lembramos ter
um nome, não lembramos de quem somos e muito menos de quem com quem vivemos.
Naqueles momentos, enquanto absortos no filme que “prendeu” nossa
atenção esquecemos do que temos, do que queremos ter e do que
queremos ser. Resumindo, durante a projeção de um filme interessante,
mentalmente dirigido nele, não existimos para nós mesmos.
O que fazemos quando vamos ao cinema? Ficamos absorvendo produtos
da imaginação de outros. Os produtores dos filmes não tendo
os seus enredos baseados em fatos reais, no mais das vezes, os enredos são
criações imaginativas de autores, cujos atores desempenham a função
de protagonizarem suas histórias.
Nós apreciamos e elogiamos a capacidade de imaginação de
outros, aceitamos e as revivemos naturalmente sem desmerecê-la por ser
irreal e somente imaginação.
Todos nós possuímos a capacidade de imaginar, mas, preferimos
viver da imaginação dos outros. Quem tem a capacidade de imaginar
também tem a capacidade de criar. Alguns inventos surgiram por coincidência,
mas, a maioria deles, primeiro foram criações da imaginação
para depois serem concretizados.
Na vida real, assistimos muitos fatos se sucedendo e alguns
mais que outros, ocupam mais tempo na nossa mente por nos serem mais importantes
ou emocionantes. Porém, os fatos depois de já terem existido e
sendo do passado, mesmo terem sido objetivos, reais, quando recordados podem
ser entendidos como sendo parte do processo de funcionamento da imaginação.
Fatos reais já sendo do passado podem ser imaginados de um modo diferente,
modificados em seus efeitos como gostaríamos que tivessem sido, embora
seja impossível retroagir neles e alterar seus efeitos. Fatos reais que
já existiram, quando perpassam pela nossa mente, eles têm realce
ou “evidência autêntica” igual a qualquer fato inexistente
apenas imaginado. Em outras palavras, fatos existidos e depois só tendo
existência como lembrança, eles passam a ser da mesma categoria
dos fatos fictícios criados pela mente, isto é, ambos não
existem no presente, com a diferença que um deles já existiu no
passado e o outro nunca. Entretanto, a imaginação pode “recriar”
na mente um fato não existido, bem como, um existido.
“O cinema é uma indústria de sonhos para
quem não consegue sonhar sozinho”. Ao ler essa frase, o que mais
chamou à atenção, foi a verdade sobre nossa pouca dedicação
à imaginação para termos nossos próprios sonhos.
Diferente das fantasias mentais, a imaginação é um “sonhar
acordado” com a vantagem de poder controlar e selecionar as imagens do
início ao fim. Existe a possibilidade ---alguns até ensinam como---
de nossas imaginações criativas serem materializadas no mundo
real, isso, quando não forem inviáveis ou impossíveis.
Muitas coisas úteis, primeiro foram imaginadas para depois serem realidades.
É isso aí. A imaginação pode afastar a monotonia
do só viver com tudo que já foi imaginado, e por outros.