O menino estava em sua casa quando aquele dia do passado distante escureceu. Trovões repercutiram pelo céu. Sua mãe toda vez que trovejava, diante de uma vela acesa ela repetia Santa Bárbara, Santa Bárbara. Logo uma ventania fez-se presente. O ruído e o agitar das matas pareceu um bailado selvagem. A poeira da rua elevou-se invadindo os espaços circundantes. A ventania provocou o circular de um redemoinho que atraiu poeira e folhas secas dispersas e as envolveram numa dança espiral. Isso vem a delatar a nossa insignificância diante das manifestações comuns provenientes da atmosfera que circunda o nosso planeta. Entretanto, tudo foi o preparo do palco da natureza para que ela promovesse um de seus espetáculos furiosos. E assim com o cenário preparado irrompeu a já esperada tempestade.
O menino daquele tempo circulou pela casa, através das vidraças dos diversos cômodos ele encantou-se com as diferentes visões. Viu a horta sendo encharcada pelas águas da chuva, no jardim ele viu as rosas se inclinarem enquanto as gotas de chuvas acumuladas nelas escorriam banhando os seus espinhos. Na rua, a chuva despencava no chão e suas gotas saltitavam trombando com outras pelo ar. As águas que escorriam pelas valetas estreitas e rasas da rua e se acumulavam formando uma enxurrada de cor marrom-poeira que seguia pela beira da rua até onde não se via mais. Aquele menino, pelas janelas de sua casa satisfez sua curiosidade e admiração pelos efeitos que a natureza produz no clima.
Mas, enquanto sua mãe permanecia na cozinha diante da vela acesa entre um relâmpago e outro ainda repetindo Santa Bárbara, Santa Bárbara para acalmar a tempestade, o barulho de um pipocar vindo do telhado absorveu a sua atenção, então, o menino daquele tempo gritou: Mãe, mãe ta chovendo pedra, ta chovendo pedra mãe. Ele pegou aquela velha cadeira de madeira, encostou-a na parece abaixo da janela, subiu nela e de pé olhando através da vidraça deslumbrou-se com aquela proeza da natureza. Aquele gramado em que tantas vezes sua mãe estendeu as roupas, aos poucos ele foi perdendo o seu verde para ser substituído pelo branco da água petrificada vindo do céu. Contente pela cena se embranquecendo no verde do gramado ele nem percebeu que quase de repente a tormenta passou e o frescor reinante foi o convite para o retorno dos pássaros com seus vôos alegres. E o céu logo recuperou o seu azul.
O menino peralta pulou da cadeira, pegou uma caneca rústica feita de lata gritando: Mãe, eu vou pegar gelo pra comer com açúcar. Naquela euforia pueril ele saiu para o quintal da casa e recolheu as pedrinhas de gelo do gramado e com elas encheu a caneca de lata. Ele saboreou o gelo com açúcar na ingenuidade de ser criança sob o sol que reapareceu depois da chuva e assistiu as pedras de gelo do gramado se descongelando como sendo o sinal de que a natureza estava se recompondo de sua fúria tempestuosa. Muito tempo se passou e quantos de nós também fomos meninos a olhar pela vidraça a chuva cair e meninos de degustar gelo com açúcar daqueles tempos de quando as crianças viviam mesmo como sendo crianças? Hoje quando muitas chuvas se passaram em nossas vidas, muitos de nós tivemos trovões e relâmpagos entre os nossos dissabores e o céu com suas nuvens brancas emoldurando as nossas alegrias.
Altino Olympio
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