02/10/2006Pensamentos ViciadosEste tema fez parte de um dos nossos programas de rádio do dia 30-03-2000.
Nesta nossa época não se pensa, apenas se vive. A maioria das pessoas se acomodou e vive “digerindo” os pensamentos de uma minoria, aquela que molda os costumes vigentes. Mas, será que ainda sabemos pensar? Quando tentamos, não percebemos que nossa cabeça já está abarrotada com tudo o que já foi pensado pelos outros. É, pensamentos originais são raros. Se alguém se apossar de uma grande quantia de dinheiro, saberá usá-lo de maneira diferente de como outros usaram? Como dizia o falecido Abelardo Barbosa do antigo “Programa do Chacrinha” de Televisão: “Aqui nada se cria, tudo se copia”. Esta foi uma boa resposta para a pergunta. Perder a capacidade de pensar é transgredir um dos propósitos da existência, pois, dizem que, quem sabe pensar conquista uma parcela de liberdade. Muitos se tornaram autômatos pela falta da prática de pensar por si mesmos e são prisioneiros da imitação pelo que os outros pensam, compram e fazem.
A engrenagem do mundo funciona com a lubrificação dos que tudo copiam. Como disse o sábio Vivekananda “as engrenagens do mundo são um mecanismo terrível e estamos todos presos nesta máquina poderosa e complexa”. Os que nunca pensaram nisso jamais se libertarão dessa “maquina” e os poucos que sabem do domínio dela, tentam, mas, não conseguem se livrar dela. É difícil! Se nos desprendêssemos dos nossos sentidos de percepção estaríamos livres. Entretanto, como viveríamos sem esses sentidos? Nossos pensamentos são o reflexos de tudo que a nossa memória acumulou, somados com os do dia-a-dia dos pensamentos dos fatos das “engrenagens do mundo”. É difícil pensar somente no que queremos e gostaríamos de pensar. Na história da humanidade tivemos alguns gênios de sabedoria. Foram gênios porque viveram meio “desligados” das “engrenagens da máquina” do mundo, isto é, não se importaram com as convenções sociais de suas épocas. Alguns até foram vítimas de zombarias porque, usavam trajes com cores que não combinavam. Um deles saia pela rua vestindo num pé uma meia de cor diferente da outra vestida em outro pé e outras coisas de desajustados dos costumes aceitos os gênios faziam.
Contudo, esse viver alienado dos gênios facilitou-os na fuga dos domínios aprisionantes das engrenagens do mundo. Introspectivos, “meio desligados” e apenas vivendo em si mesmos, foram considerados gênios devido as suas descobertas, criações e inventos que favoreceram a humanidade. E nós que, temos a “sorte” de não sermos “meio desligados”, nos vangloriamos de sermos “normais” e obedientes às convenções sociais, somos cidadãos civilizados, ou melhor, somos padronizados. Nada inventamos, nada criamos, tudo copiamos, tudo imitamos. Não nos damos conta disso ou, não nos preocupamos com isso porque, abarrotados, nossos pensamentos são viciados e nós pensamos que só somos o que pensamos e acomodados não queremos pensar no que ainda não pensamos. Essa preguiça mental é o nosso se igualar destes dias no nosso apenas viver sem pensar e para não cansar, pensar mesmo, só se for no que outros já pensaram, cuja conseqüência, é imitar o que os outros fazem.
Altino Olímpio