Quando era menino ao levantar uma pedra que estava sobre a terra e ver que debaixo dela estava uma minhoca que sendo descoberta se contorcia pensamento não me havia se Deus existia.
Quando olhava pela janela eu só pensava naquilo que via e não no que não havia que as pessoas acreditavam que existia.
Quando lá fora chovia forte e suas águas escorriam pela rua de terra e formavam poças logo sobre elas eu me debruçava e no reflexo me via como o Narciso se via.
Todos os anos eu via o abacateiro florescer e depois seus verdes abacates aparecerem como num palco na tarde para os sabiás se apresentarem e cantarem. Fiquei moço com moças a namorar e nunca mais vi o abacateiro florido e nem os sabiás a cantar.
A cartilha escolar com as primeiras letras e ilustrações coloridas foram a primeira e mais apaixonante poesia da minha vida.
Naqueles tempos de comer doce de Maria Mole comprada no armazém tendo pra escolher entre a branca e a mais escura amarronzada já era um aprendizado para se ter preferências durante a vida.
Chutar lata vazia pelas ruas já era o dizer que ninguém mandaria em mim.
Quando nem sempre passava um enterro pela minha casa com o caixão do falecido sendo levado à frente acompanhado por muitas pessoas a pé e alguns familiares chorando meu pensamento parava de pensar no meu apenas observar o féretro a passar para só depois pensar em como a morte tanto medo podia causar.
Pela rua e se aproximando trazendo marmita vazia em que comia o pai se via vindo do trabalho para casa e para o filho isso era muita alegria.
Quando se via e se ouvia a banda do lugar tocar menino sentia revirar por dentro um sentimento que se fosse pra falar nunca iria conseguir explicar.
Mas o menino nunca pode gritar de alegria “o circo chegou” porque lá onde ele morava o circo nunca chegou e ele nunca viu tigres e leões enjaulados e nem palhaços engraçados para completarem seus tempos de criança.
Altino Olympio