Naquele lugarejo mantido por uma fábrica de papel tendo só ruas de terra, tendo só gente boa nas casas quase todas parecidas, tendo um rio para quem quisesse passear de barco e pescar, lugar dos muitos pés de mamonas, goiabeiras nas matas e abacateiro em quase todos os quintais das casas e outras árvores frutíferas, pássaros e borboletas em profusão, cantos das cigarras repercutindo pelos dias de sol de verão...
Que lugar esplêndido de rapazes e moças bonitas. Minha irmã Anita e amigas, uma vez tinham ido num passeio para catar pinhão. Plantações de pés de pinhão (araucárias) da indústria de papel do local tinham muitas ao derredor daquele lugar místico. Mesmo em dias claros, era sombrio e escuro por dentro daquelas plantações que ocupavam áreas enormes de terreno. Também eu com algum amigo e com meu cachorro várias vezes fui buscar pinhão. Levava uma sacolinha de pano (bornal), estilingue e muitas pedras nos bolsos da calça.
Embrenhava-me pela selva de araucárias me desviando de matas baixas que tinham espinhos, como, os pés de amoras silvestres ou selvagens. Caminhando por entre os troncos dos altos pés de pinhão, vez ou outra se encontrava esparramado pelo chão, pinhões que haviam caído de lá de cima da copa da árvore “pinhoeira”. Era de provocar uma emoção, embora simples, o achar, ver pelo chão aqueles comestíveis amarelos espalhados. Naquele frescor das sombras e naquele silêncio arborizado, a vida se interiorizava com a natureza acrescentando mais paz interior. Os pensamentos sobre quaisquer outros fatos da existência desapareciam.
A vida não era outra coisa senão o catar pinhão. Uma real higiene mental! Quando não havia pinhões pelo chão era preciso derrubá-los lá do alto da copa de suas árvores. Era preciso explodi-los quando se encontravam unidos formando uma bola bem redonda. Para acertar a “bola” só se conseguia com uma estilingada. Era preciso ter boa mira para acertar. Quando se acertava... Póóóóóóóóó era o barulho que se ouvia do espatifar da bola antecedendo a queda espalhada dos seus pinhões. Ai era só catá-los pelo chão. Mais de uma vez trouxe aquele bornal recheado para casa.
Era trabalho para a mãe ter que cozinhá-los. Hoje, já estando velho, quando me concentro para enviar boas vibrações mentais para outros (até parece), me “bate” uma grande tristeza pelas muitas pessoas que nunca em suas vidas foram catar pinhão (risos). Elas nem imaginam o que perderam por não terem ido. Elas nunca souberam o que é conversar com árvores. Eu também nunca soube (risos).
Altino Olympio
Comentário:
Re: maior catador de pinhão
Amigo Altino, sua mensagem sobre Pinhão me fez lembrar daquela época. Eu não usava estilingue, subia no pé de pinhão através uma cinta de couro amarrada na cintura e subia, normalmente eu pegava de 15 a 20 bolas de pinhão. Saudades daqueles tempos que infelizmente não voltam mais. Um abraço do Picolé.
André Pastro