O ser humano não se dá conta das suas tranqueiras
interiorizadas, as mantém e as leva por onde for. Em seus relacionamentos
e mesmo tratando de assuntos considerados importantes, ele carrega seus lixos
e eles não se fazem perceber por outros possuidores deles também,
porque, em seus diálogos, as “importâncias” encobrem
ou impedem o vazar ou transparecer suas poupanças de inutilidades.
Usando a luz como simbologia, sabemos ser ela “branca” composta
das cores do arco-íris. As cores concentradas, unificadas, manifestam-se
para nós como a claridade transparente e incolor embora imperceptíveis
para o olho humano.
O ser humano diante de outro também é concentrado e unificado
sendo ele suas utilidades e muito mais inutilidades, suas tranqueiras e lixos.
Se igual ao prisma que decompõem da luz suas cores e as identifica separadamente,
existisse um prisma para diluir ou desconcentrar do ser humano suas utilidades
e inutilidades e vê-las identificadas separadamente, talvez, não
tivéssemos mais com quem conviver.
Sendo muito sutil ---até parece--- isso muito tem a
ver com as antipatias existentes entre os com poucas e os com muitas inutilidades
constituídas, se não bastasse nossas próprias, insignificantes
e estorvadoras do nosso existir.
Todo ser é um universo em miniatura. Tudo nele absorvido, embutido: fatos,
erros, fracassos, arrependimentos, remorsos, sofrimentos, medo, traumas, inveja,
comparações, ambições, realizações,
alegrias, tristezas, pobreza ou riqueza, saudade, incapacidade, desprestígio,
superstições e outras “coisas” além das constantemente
absorvidas trivialidades, futilidades e tantas desnecessidades desta tresloucada
era da comunicação, tudo isso sendo o universo em miniatura que
é cada ser e com o qual que terá que conviver até morrer.
Comparando o “homem computador” com um computador
de verdade, o homem é totalmente inferior quanto ao poder de se livrar
de suas “sujeiras” como para isso tem poder para livrar-se das dele
o computador sob o nosso comando. Ele manda para a lixeira o que não
mais interessa, ficando lá até querermos esvaziá-la e depois
nenhum vestígio fica para reaparecer e intrometer-se no que interessa.
O homem, quando tenta esquecer o que considera insuportável lembrar,
é como se enviasse para uma “lixeira interior” seus tormentos,
porém, nunca conseguirá esvaziá-la e por isso, sempre ela
estará exalando-lhe o odor de seu conteúdo, mesclando-o com os
momentos de sua vida ou, sendo mais comum, a poupança de sua lixeira
se esparrama pela sua cabeça e sua boca transfere para outros suas imbecilidades,
aqueles lixos habituais tão disputados deste nosso cotidiano.
Esses “universos em miniatura” têm como suas
desditas suas inconsciências ou despercebimentos das utilidades ou importâncias,
aquelas que uma vida produtiva precisa para viver com reais valores. Enquanto
não sabemos ou queremos isso, neste país, como ele é democrático,
não é contra a lei espalharmos nossos lixos e também é
bom porque sempre seremos atuais, populares e considerados.