Numa noite um pai severamente repreendeu seu filho por algo que o estava desagradando. Na manhã seguinte o filho desapareceu. O dia passou, outro dia também e o filho não voltou para casa. Uma conhecida da vizinhança passando em frente à casa daquele pai, vendo-o ela lhe perguntou: Teu filho já voltou? Surpreso por alguns instantes ele respondeu que não e ficou pensando: “Como ela soube da ausência do meu filho se não contei pra ninguém que ele se ausentou? Nem contei para os outros filhos!”. E a mulher continuou a falar dizendo: Ele está acampado lá na Prainha de Bertioga. O pai, então, deduziu que ela sabia donde estava o filho dele porque ele era amigo do filho dela. Daí, o filho dela é que a informou sobre donde estava o filho dele.
O pai, então, disse para a mulher: Ah está tudo bem, logo ele volta. Outros dias se passaram até que num telefonema ‘a cobrar’ ouviu a voz do filho a dizer “pai eu não morri, estou vivo”. Então volta pra casa disse-lhe o pai. Ainda não posso, respondeu-lhe o filho, preciso conseguir dinheiro para poder voltar. Fica frio, logo eu volto. O telefonema deixou o pai tranquilo. No dia seguinte, à noite, outro telefonema: “Pai, estou aqui em São Paulo! Vou embarcar no Metro e depois no último trem e logo estarei ai”. Ao pai só restou-lhe a impaciência de aguardar a hora do filho chegar.
Naqueles momentos de espera, o pai sentiu-se dividido em suas reflexões: Deveria receber o filho cordialmente ou admoestá-lo duramente pela sua aventura inconsequente? Já passando da meia-noite finalmente o rapaz chegou. O pai o recebeu passivo e silente dando-lhe a oportunidade para que ele discorresse sobre os seus últimos acontecimentos. Resumindo a aventura do rapaz foi assim: Na manhã seguinte depois da discussão com o pai, com uma pequena quantia de dinheiro o filho viajou até o litoral de Bertioga, local conhecido do Estado de São Paulo.
Nos primeiros dias enquanto durou o dinheiro, o rapaz alimentou-se em restaurantes. Logo ao ficar sem dinheiro ele fez amizade com um pescador. Ele se ofereceu para ser ajudante do pescador em troca de alguns peixes. E assim, num pequeno barco os dois de madrugada navegavam até mar adentro. Disse o rapaz que o pescador tomava um litro de pinga por dia e se algo acontecesse ao pescador, ele jamais voltaria da pesca, porque, só sob o céu e apenas circundado pelo mar, sem qualquer ponto ou direção para referência, sozinho jamais ele conseguiria regressar para terra firme.
O rapaz também foi na casa simples do pescador e lá conheceu e se apaixonou pela família dele, do pescador. Ele tinha um casal de filhos. O menino se chamava Marcel e a menina se chamava Ceumar e que muito gostaram do rapaz, que, também muito se identificou com aquelas crianças. Com os peixes que o pescador dava ao rapaz ele os trocava por comida com aqueles que estavam acampadas naquela prainha, onde também divertia-se tocando violão, divertindo também os demais daquele acampamento já que tocava muito bem.
Quando o rapaz resolveu retornar para a sua casa ele pediu para o pescador que lhe desse camarões ao invés de peixes. Assim, a venda dos camarões proporcionou-lhe saldar os custos de sua viagem de regresso. Quando do regresso do filho, o pai atentamente ouviu-lhe a narrativa de sua aventura sem esboçar qualquer atitude repreensiva. Ao contrário, percebeu que o filho tinha capacidade para resolver problemas de sobrevivência. Aquele rapaz deixou de existir no dia vinte e dois de março de 1991, pois, fora assassinado no Parque São Domingos, um bairro da Cidade de São Paulo. Seu nome era Alexandre Sanchez Olímpio.
Altino Olimpio