Na luta de toda uma vida, os anos entre o nascimento e a
morte não passam de ser capítulos da nossa novela particular pelas
mudanças que vão provocando em nossa personalidade sem sair da
prisão que cada um constrói para si. Nossa prisão é
o nosso condicionamento, a “programação” de que fomos
vítimas ingênuas e inocentes e a programação adquirida
depois de sermos “conscientes”. Na juventude somos um corpo vibrante
com energia parecendo ser inesgotável. Na maturidade gastamos muito de
nossa energia para conquistar o “nosso lugar” neste mundo. Na velhice,
nossa energia já enfraquecida é dirigida para enfrentar as doenças
e o nosso intelecto fica apaixonado por conversar sobre elas e querer saber
de quem já foi. No lugar que conquistamos pensando nele ser ainda nosso,
parecemos estar sendo desagradáveis para outros ao nosso lado que o destino
nos trouxe. As atualidades do cotidiano ficam sem graça e nenhum interesse
parece ter. Aí, felizmente, temos o nosso refúgio particular.
Com o pensamento podemos “viajar” e desfrutar do nosso condicionamento,
da nossa programação de até então. Mas, que decepção!
Em todas as “estações” só encontramos bosta
para o turismo de nossa fuga do presente tão indiferente. Todos os capítulos
de nossa vida são como um livro escrito que devemos levar para o céu
depois que morremos. Com tanta bosta assim, será que tem céu que
agüenta? As minhas já são insuportáveis, imaginem
só misturadas com as dos outros. Ah não! Não quero ir para
lá e nem voltar para cá. Talvez um estado de coma seja a única
solução e salvação.