Confronto com a realidade
Gozado, às vezes me pergunto quem eu sou como se já tivesse deixado de saber. São “coisas” da idade avançada. Às vezes também me conformo como sendo alguém que não é ninguém dentre os tantos mais de duzentos milhões de brasileiros. Meus anteriores anos vividos foram envolvidos com trabalho, família, entretenimentos, relacionamentos amistosos e amorosos, fraternidades filosóficas, filantrópicas, leitura e etc. cujas experiências seriam para minha evolução e para ser como eu deveria ser na velhice.
Mas, agora já nela ou perto dela, me encontro desfeito de tudo o que eu pensava que deveria ser (risos). Nada sou daquele “deveria ser” resultante das experiências vividas e nem me lembro “de como deveria ou queria ser” (risos). Penso muito no “nada se sustenta” do sempre estar por detrás das mentiras e das ilusões da vida. Na idade avançada à vida me pegou na armadilha da realidade de que “o que sou hoje” seja igual ao mesmo nada que eu era de quando ainda estive iludido na preparação “para como eu deveria ser no futuro”. Cheguei rápido ao tal futuro como qualquer ser, para apenas “só estar a viver por viver” e mais nada (risos) como se só isso fosse importante. Muitos podem estar na mesma situação, mas, mantendo ainda os mesmos “ares” de importância que pensavam ter no passado, nem desconfiam que até o “ser interessante” para outros desaparece mesmo antes da velhice se estabelecer completamente (risos).
Se o conteúdo deste texto fosse dito aos amigos e conhecidos, me interrompendo antes de saberem do que se trata, sei “de cor” o que iriam dizer: “Você não deve pensar assim. Todos têm importância na vida e todos são interessantes perante Deus. Ele sempre sabe o que faz. Não seja pessimista. Pense só em coisas boas. Passeie, viaje, leia, reze, aprecie a natureza, o luar e o brilho das estrelas” e etc. Isso mesmo, amigos e conhecidos... Como eles são úteis, falantes e inoportunos (risos). Sempre pensam que tem solução para tudo, menos para os próprios problemas e mesmo assim são especialistas para sanarem os problemas dos outros (risos).
Entretanto, como sempre acontece, o objetivo principal do texto iria ficar desprezado para ser vencido pelo “deixa disso, não é bem assim, você está exagerando” e etc. O texto acima, um tanto pessoal, mais está a ser o resultado de observações sobre como a velhice, pelo enfraquecimento da capacidade motora, mental e da memória, ela pode “por a perder” tudo o que se relaciona com a evolução mental de até então. Mas, isso já nada afeta, porque, na velhice, sendo quase a regra geral do “só resta mesmo apenas viver por viver” nada mais importa (risos). Diante deste mundo tão tumultuado, o esquecer de quem se é ou de quem se era, até pode ser bem-vindo (risos).
Altino Olympio