A mulher do ai, ai, ai
Para cada fase da vida existem os assuntos que lhes são mais pertinentes. Assuntos que são mais entre os jovens, assuntos mais “sérios” para os adultos e finalmente assuntos ou conversas entre os idosos que têm mais experiência de vida. Assuntos como, dor nas pernas, cansaço nas subidas, pressão alta, fraqueza, reumatismo, diabete, visão e audição fracas, infarto, derrame, remédios, impotência e etc. e assim são esses assuntos que muitos idosos antes de ficarem velhos (risos) gostam de falar.
Na cidadezinha donde nasci, o papel das pessoas de lá era se empregarem na fábrica de papel para terem seus sustentos. Lembro-me de um dia que ficou esquecido no tempo em que jovem ainda estive numa sala de consultas, não em um hospital, mas, no prédio da farmácia que existia naquele lugar, onde também um médico dava plantão. Mesmo com várias pessoas na sala não havia aquele vozerio de quando juntas elas atrapalham o silêncio. Comportadas, elas nem falavam entre si.
Mas, lá estava também uma senhora muito conhecida no lugar e hoje faz muito tempo em que ela foi recolhida daqui deste mundo. “Quebrando” o silêncio ela chamou a atenção dos outros com os seus gemidos: Ai, ai, ai, ai, ai. E os foi repetindo até que alguém que também estava naquela sala interrompendo-a perguntou-lhe o porquê de seus gemidos de dores. E ela “tintim por tintim” respondeu-lhe o porquê de sua dor.
Depois ela se manteve quietinha como se tivesse esquecida dos seus ais. Foi a primeira vez que vi acontecer um milagre. Depois que ela contou tudo sobre seu problema de saúde, ela imediatamente sarou e seus gemidos cessaram. Não fiquei sabendo se foram os seus ais que a curaram ou se foi porque revelou para todos que estavam naquela sala os motivos de suas dores. E assim, os ais daquela senhora (ai, ai, ai) se fizeram parte da minha vida num dia lá do passado pensado agora como se já estivesse sumido da minha memória, mas não, não esteve sumido, só esteve esquecido.
Altino Olimpio