15/10/2007Inferno PróprioTalleyrand, o grande diplomata do começo do século XIX disse que “a fala foi dada ao homem para disfarçar seus pensamentos”.
A fala existe para expressar os pensamentos e eles obedecem a um comando de um pensamento mais interior (consciência) para a escolha do qual ou dos quais pensamentos devem se expressar. Existindo um pensamento como gerenciador de outros, ele é quem decide sobre os quais, como ou quando a fala deve expressá-los ou não. Esse “controlador” da exteriorização mental faz o viver em sociedade ser mais suportável sem a revelação momentânea dos desagrados entre pessoas ao se relacionarem, social ou profissionalmente.
Quando em pessoas o caráter lhes é fraco, ele influencia com dissimulação, hipocrisia, esperteza e falsidade o “gerenciador” de pensamentos na decisão para exteriorizar o que lhes traga vantagens. Isso é corrente no nosso cotidiano, mais no meio político donde tais evidências mais são difundidas. Alguém sobre outro manifesta considerações elogiosas quando anteriormente já havia demonstrado antipatia e antagonismo por ele. Essa mudança de consideração, sendo uma leviandade e falsidade comportamental, ela é conseqüência daqueles interessados nas vantagens das conveniências. O indivíduo mantém um pensamento negativo sobre alguém, mas, manifesta um positivo com o intuito de obter favores. Isso pode ser entendido como uma prostituição mental. Comprova-lhe o mau caráter. Porém, sem sombras de dúvida “é um bom político”.
O homem quando vive dissociado da autenticidade, pior para ele, é o quem mais sabe disso sobre si mesmo. Saber-se um “oportunista” e para ser isso se saber violentador da própria sinceridade é ampliar o inferno próprio com o qual terá que conviver, ocultando suas indignidades diante de outros. Diante das circunstâncias quando suas indignidades humanas precisam ser disfarçadas e substituídas por dignidades, momentâneas ou premeditadamente inventadas, tal homem tem como cúmplice sua fala. No falar contrário a seus conteúdos, homem engana homem. Como fato já consumado em grande parte da sociedade, tornado comum, o enganar, como se sabe, está presente na política e em muitas instituições religiosas. Ambas muito produzem conseqüências no viver e no comportamento do povo. Assim sendo, estamos à mercê das influências malignas dos engodos e das mentiras. Quem ainda não perdeu a capacidade de se indignar sofre mais. Muitos, ao contrário, embrutecidos pela vigência contrária aos princípios humanos que clamam por dignidade, esses, sentem-se mais confortáveis.
Altino Olímpio