Um filósofo, o Jean Jacques Rousseau (1712-1778) que morreu um ano antes da famosa revolução francesa de 1789 donde foi invocado pela primeira vez o lema “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”. Em seu parecer sobre a origem e os fundamentos da “desigualdade entre os homens” publicado em 1755, Rousseau aponta as bases sobre as quais se forma o processo gerador das “desigualdades sociais” e morais entre os seres humanos. Retroagindo à existência dos primeiros homens, numa reflexão ele foi levado a deduzir que toda desigualdade se baseia na noção de propriedade particular criada pelo homem. Segundo Rousseau, os primitivos deviam viver em bandos mais ou menos organizados, que se ajudavam esporadicamente, apenas enquanto a necessidade emergente exigisse, para fins de alimentação, proteção e procriação. Findada tal necessidade, os primitivos seguiam suas vidas de forma isolada, até que nova necessidade aparecesse.
Com o surgimento de novas exigências, as quais estes povos não estavam acostumados, surgiu, também, a percepção de que poderiam ter, além do necessário, algo mais que pudesse fazê-lo melhor do que os outros homens. Esta noção, ainda rudimentar nesses povos, foi-se aperfeiçoando, até alcançar um nível de elaboração que fizesse surgir a idéia de propriedade, fosse ela um animal, terras, armas e, até mesmo, outras pessoas. Essa noção de propriedade criou nos primitivos a idéia de acumulação de bens e, conseqüentemente, superioridade frente aos demais. Essa suposta superioridade foi o estopim para o início dos conflitos entre os homens de uma mesma tribo e, posteriormente, entre cidades e nações.
Outra novidade nesse progresso mental foi à noção de família, que com o tempo, levou homens e mulheres a deixarem de lado o comportamento selvagem que tinham. Essa moderação no comportamento, fez emergir a fragilidade perante a natureza e os animais, mas trouxe como compensação e noção de grupo, que transmitia maior poder de resistência do que o indivíduo isoladamente. O amor conjugal e o fraternal surgem nesse momento, segundo Rousseau. Entretanto, a facilidade da vida em grupo trouxe outro problema: a ociosidade e a busca por algo que desse sentido a vida, além do trabalho. Assim, o lazer se instituiu, porém, com o passar do tempo, o que era comodidade passou a ser visto como necessidade e novos conflitos surgiram, fazendo com que o homem ficasse mais infeliz pela privação das comodidades, do que feliz de possuí-las. Assim, segundo Rousseau, as desigualdades entre os homens têm como base a noção de propriedade privada e a necessidade de um superar o outro, numa busca constante de poder e riquezas, para subjugar os seus semelhantes. “O homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe”.
Depois de ler o artigo acima de Geraldo Magela Machado sobre a “desigualdade entre os homens”, eu considerei que as reflexões de Jean Jacques Rousseau sobre as desigualdades humanas são bem mais aparentes neste século vinte e um. Qualquer indivíduo é avaliado pelo que ele possui mais que os demais. Parece mesmo que quem possui mais se julga melhor e superior dos que possuem menos ou nada possuem. Nisso, mesmo disfarçado e sendo inefável, pode existir o desprezo entre os que têm pelos que nada ou quase nada têm e a inveja dos que nada tem pelos que tudo tem. Nesta sociedade “insociável” (risos) o “ter” é muito mais relevante do que o “ser”. “A quem tem tudo lhe será dado e a quem nada tem tudo lhe será tirado”. Essa parece ser a norma vigente (risos). Aqui abaixo está um link que exemplifica bem a importância do ter, do possuir e do querer ser superior aos outros mesmo não sendo:
Altino Olympio