As crianças daqueles bons tempos passados viviam felizes em suas descontrações. Deslocavam-se para qualquer parte do lugar donde elas moravam, isto é, das vilas donde elas moravam elas podiam ir para outras vilas brincar com outras crianças sem que houvesse qualquer perigo. A maioria delas tinha o costume de sempre andarem descalças pelas ruas. Naqueles tempos no lugar donde nasci e cresci ninguém se importava com luxo. O viver era mais simples e as amizades eram mais frequentes.
Como qualquer gente de qualquer lugar donde morasse, o Dia de Natal era muito comemorado. Alguns preparos para tal dia eram iniciados bem antes, como por exemplo, a engorda de porcos. Eles ficavam isolados ou fechados num pequeno espaço coberto e cercado chamado de chiqueiro. Eles eram tratados com “lavagem de porco”, nome este dado a uma mistura de alimentos que eles consumiam. Já “capados” (castrados) eles engordavam muito e ficavam enormes.
Nas proximidades do Dia de Natal alguns homens se reuniam no quintal da casa de alguém para uma batalha heroica. Numa mesa improvisada eles colocavam um enorme porco que tinham ido buscar lá no chiqueiro. Deitado na mesa com os homens ao redor dela, o porco entre as conversas e os risos deles, grunhindo como se sentisse fora de qualquer perigo, de patas pro ar deixava-se coçar na barriga por eles. Aqueles agrados humanos pareciam criar no porco um estado de contentamento animal.
Mas de repente uma faca comprida e pontuda lhe penetrava no peito sendo-lhe muito diferente das cócegas que até então o esteve mantendo calmo. A surpresa da dor tão profunda e inesperada o fez grunhir muito alto até ao se fazer ouvir ao longe. Quem em criança ouviu tal “grito de desespero” nunca mais na vida iria se esquecer dele.
Tendo suas patas amarradas e também seguras por aqueles homens, o porco só podia “berrar”, isso porque a facada não lhe fora certeira. Ela não lhe acertou o coração. Aqueles homens daquele preparo alimentar para o dia de paz, para o sagrado Dia do Natal, eles não gostavam que as crianças ficassem por perto quando um porco iria ser sacrificado para a gula humana. Elas ficando com dó do porco poderiam trazer azar fazendo com que a facada errasse o alvo e por isso o porco demoraria para morrer.
Como em épocas de Natal era comum consumir carne de frango, carne de cabrito e etc. os longos gritos (grunhidos) de pavor dos porcos esfaqueados ouvidos pelas donas de casa da vizinhança significavam apenas que estavam matando porco para o Natal. Parecia que não havia qualquer tristeza pela morte do animal que iria suprir de alimento a mesa de Natal.
As crianças que inevitavelmente ouviram aqueles gritos de terror e depois viram o esquartejamento do porco já inerte, elas inconscientemente estiveram sendo precocemente “adultezadas” pelos adultos para quando fossem homens também, se esquecessem do “não matarás” ensinado pelas religiões. “Talvez” o “matará” só fosse pecado se fosse praticado entre os homens e nada tendo a ver com a humana matança de animais.
Antigamente quando se contava histórias para as crianças dormirem existia a história dos três porquinhos cujos seus nomes eram: Cícero, Heitor e Prático. Eles, limpinhos, bonitinhos e falantes que eram, eram perseguidos pelo lobo mau que queria comê-los. Mas as crianças não sabiam que lobo mau era o apelido do homem carnívoro (risos).
Altino Olimpio