O passado é mais presente
Têm pessoas a dizer não gostarem de “viver” nas lembranças do passado, mas, duvido que consigam se livrar dele. Constantemente, o nosso pensamento retira da memória fatos de nossa existência e basta qualquer estímulo para isso. O ouvir uma música, ver alguma cena de algum filme ou mesmo do cotidiano, de imediato provoca alguma lembrança de fatos existidos e lembrança é o passado. Se não tivéssemos o passado sempre presente não teríamos experiências para entender à nossa maneira o que nos ocorre no presente. Quando se observa pessoas conversando, mais elas estão discorrendo sobre ocasiões existidas. É raro numa conversa se falar de possíveis acontecimentos do futuro. Se não tivéssemos o passado retido na nossa consciência nós seríamos incapazes de entabular qualquer conversa com alguém. Seríamos apenas um corpo a ocupar um espaço sem qualquer reação intelectual para qualquer ocorrência do presente. Para outros seríamos apenas um “desmiolado” incapaz de viver em sociedade. Li no jornal eletrônico “A Semana” de Caieiras a crônica “Reencontro com o passado” de autoria da Fátima Chiati. Gostei de como ela apreciou esse tema. Continuando, as pessoas são os seus passados, embora, não gostem de algumas lembranças que surgem dele. Isso também ocorre comigo e às vezes elas até ficam “martelando” na minha cabeça. Sim, ressurgem sem esperarmos e sem desejarmos. Daí dizerem que não gostam de viver no passado, pois, algumas lembranças são indesejáveis. Lembrando, nosso corpo sempre está no presente, mas, o nosso pensamento, não! Ele, arbitrariamente, sempre nos torna parcialmente ou mesmo totalmente, inconscientes do presente, focalizando nosso olhar interior para rever uma cena de outrora. Para isso basta um estímulo de tato, visual ou auditivo do presente para que a mente instantaneamente o transfira para a memória e que ela reproduza cenas ou fatos parecidos com o estímulo do momento. Pessoas, aquelas do dizer não gostar de viver no passado podem ser “pegas” recordando para outros suas experiências felizes. A questão não é não gostar do passado. É apenas por preferir boas lembranças querendo refutar as más. Quanto aos momentos agradáveis existidos é bom lembrar que o mundo é de transformações, mutações. Isso não é novidade, pois, alguns filósofos pré-socráticos bem definiram isso. Nossa infalível mutação física ao nos encaminhar para a velhice nos priva dos mesmos interesses oriundos das idades pertinentes para eles. A vida pode ficar parecendo ser vazia de encantos e não poucos dizem: Eu era feliz e não sabia. Entretanto, sempre haverá alegria de viver, correspondentes com qualquer idade ou fase de nossas vidas. Administrar os pensamentos tentando impedi-los de retornar ao passado quando não se queira isso, é impedir o sentir saudades do que não mais existe e dessas saudades se concluírem a existência da ausência da alegria nos presentes subsequentes da vida.
Altino Olympio