Numa conversa entre amigos o assunto foi sobre um crime recente
que, novamente enlutou uma mesma família. O assunto “puxou”
outro de um pedreiro que ouviu um relato interessante e deprimente Contou que
quando trabalhou na construção de um prédio em São
Paulo, um dos operários que era foragido de outro Estado, revelou-lhe
ser um pistoleiro de aluguel. Friamente discorreu sobre uma circunstância
que envolve uma “encomenda” para matar alguém. Logo ao inteirar-se
de quem deve matar, mesmo por fotografia, de imediato surge um ódio mortal
pela vítima sem ao menos conhecê-la pessoalmente. Matá-la
então, torna-se a angústia e o tormento por esperar a oportunidade
com o plano estabelecido para ela.
“Muito estranho isso” alguém comentou quando outro interrompeu
dizendo não ser nada estranho para ele depois de ter lido um livro intitulado
“De Carcamano À Comendador, A Imigração Italiana Da
Ficção À Realidade”.
Conforme entendeu pela leitura do livro, no passado os nativos
daqui estranhavam os comportamentos dos imigrantes que se instalavam em grandes
residências. Seus filhos ao se casarem e terem seus filhos, continuavam
na mesma residência morando com os pais, até com os avós
e às vezes com tios também. A família numerosa sempre muito
unida repartia entre seus membros suas alegrias e tristezas. Choravam muito
quando um dos membros da família morria e isso causava estranheza nalguns
dos nascidos nesta terra daqueles idos tempos. Com tradições diferentes,
alguns nativos pareciam não ter elo familiar. Por algum tempo viviam
com uma mulher, geravam filhos e os abandonavam como se fosse um proceder natural.
Partiam para outras cidades ou outros Estados e repetiam esse proceder desvinculado
de instinto familiar. Por isso, o costume imigrante de sempre se manter em família
sem nunca abandoná-la, não penetrava na sensibilidade daqueles
nativos mais ou menos nômades.
Eles espalharam seus genes e não é novidade quando
alguns de seus portadores se transformam em algozes ao tirar a vida de quem
eles nem mesmo conhecem. Sem a tradição do amor e do carinho entre
as famílias, a triste fatalidade que recai sobre uma delas não
é motivo de lástima para quem executa um de seus filhos. Lástima
é um sentimento incompatível e ausente no gene que direciona sua
tendência para uma atrocidade que seu possuidor pratica. Depois da leitura
do livro e pelas reflexões que ele provoca, nada mais de espanto existe
nesses crimes. A dor irreversível sentida pelas famílias envolvidas
com suas perdas irreparáveis é uma dor que pela falta de sensibilidade
emocional para senti-la, nunca terá o mesmo grau de profundidade na pessoa
que cometeu o crime, se ela de maneira igual perder um filho. Aquele integrante
da conversa baseou-se no livro que leu para sua análise dessas aberrações
humanas contadas aqui e nós nos aproveitamos de sua análise para
elaborá-la nesta crônica. Só nos resta agradecê-lo,
muito obrigado.