22/07/2020
Tempos e contratempos

Antes a vida era boa

Agora é diferente

Tem muita doença

E morre muita gente

Tudo agora causa temor

O mundo está à falência

Agora se vive com desamor

E com medo da violência

Cadê o amor ao próximo

Que parece tão distante

Parece que nunca existiu

Mas pra tapear serviu

Palavras e mais palavras

Substituem os fatos

Mais se acreditam nelas

Até quando são abstratos

A vida agora está esquisita

Muitos se socorreram

Muita gente está aflita

Menos os que morreram

Dizem que veio da China

Os vírus de nome corona

Causando muita ruína

No Brasil que desmorona

Quando ele foi esfaqueado

Muita gente sofreu

Só porque o felizardo

Recuperou-se e não morreu

Pode até mesmo ser sinistro

Absurdo que até alucina

Dizem que tem ministro

Apaixonado por propina

Aqui nem a cabeça esfria

Diante de tanto cinismo

Tem quem fala de democracia

Mas deseja o comunismo

A moda é sempre aprovada

E ela não é de besteira

Já foi da calça rasgada

Agora é da focinheira

Tudo sempre muda

Não tem mais o namorar

Que ninguém se iluda

Agora só tem o transar

A vida é mesmo um teatro

Chamado agora de Facebook

Todos falam de amores

E disfarçam as suas dores

Por esse mundo afora

Quem procura a felicidade

Não sabendo onde ela mora

Fica sem essa necessidade

A saudade sempre chega

Pra dizer que o que foi já era

Mas ela causa tristeza

E dela nada mais se espera

Quem se lembra das praças

Das cidades do interior

Moças e moços com graça

Procuravam por um amor

Hoje as praças são desertas

Dos jovens e de suas ilusões

E daquele romantismo resta

A saudade e a solidão

Este agora logo vai embora

Tudo transforma em passado

Pois o tempo a tudo devora

Para o futuro ser alcançado

Nós todos vamos desaparecer

Essa é a nossa sorte

Faz parte da vida o perecer

Neste mundo de vida e morte

Cada um de nós é um conto

Somos apenas uma história

De alegria tristeza e pranto

A preencherem nossa memória

Nós nascemos para morrermos

E ninguém foge desse destino

E se vivemos e até padecemos

Para o tempo somos clandestinos

O certo pro viver é menos pensar

No que na vida se possa alcançar

E sofrer por nada querer abdicar

Sabendo que tudo tem que deixar

E o tempo passa muito ligeiro

E quando nos vemos no espelho

Nada vemos de lisonjeiro

Na ligeireza que ficamos velhos

Às vezes somos tristes recordações

De nossos queridos que morreram

Foram nossa alegria e paixão

E a tristeza que nos corroeram

Mas às vezes reaparecem

Em sonhos ou na mente

E quando eles aparecem

Não estão diferentes

Parece que na existência

O recordar é constante

E em qualquer instante

Surge até sem insistência

Ah e as lembranças então

Elas sempre vêm à tona

Não respeitam o nosso não

Pensam que são nossas donas

Vivendo se chega num tempo

Tendo-se maior discernimento

De quando o contentamento

Mais existe no pensamento

E o que vem de fora

Já não mais nos amola

Pois sempre está mais vivo

Quem é meditativo e introspectivo

Afinal, a vida se resume naquilo que cada um agrupa dentro de si e isso é o ser como se é. Se alguém por toda a vida se preencheu com vazios, não terá na velhice com o que se proteger da solidão, do tédio e do “sem ter o que fazer” que aborrece o viver. Quem, ao contrário, não se preencheu com cultura inútil e enriqueceu seu cérebro com conhecimentos úteis, estes, irão protegê-lo na velhice promovendo-lhe defesa contra o que de inútil, evasivo, obvio, trivial e supérfluo venha a ameaçar a sua tranquilidade.

Altino Olimpio

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



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