Antes a vida era boa
Agora é diferente
Tem muita doença
E morre muita gente
Tudo agora causa temor
O mundo está à falência
Agora se vive com desamor
E com medo da violência
Cadê o amor ao próximo
Que parece tão distante
Parece que nunca existiu
Mas pra tapear serviu
Palavras e mais palavras
Substituem os fatos
Mais se acreditam nelas
Até quando são abstratos
A vida agora está esquisita
Muitos se socorreram
Muita gente está aflita
Menos os que morreram
Dizem que veio da China
Os vírus de nome corona
Causando muita ruína
No Brasil que desmorona
Quando ele foi esfaqueado
Muita gente sofreu
Só porque o felizardo
Recuperou-se e não morreu
Pode até mesmo ser sinistro
Absurdo que até alucina
Dizem que tem ministro
Apaixonado por propina
Aqui nem a cabeça esfria
Diante de tanto cinismo
Tem quem fala de democracia
Mas deseja o comunismo
A moda é sempre aprovada
E ela não é de besteira
Já foi da calça rasgada
Agora é da focinheira
Tudo sempre muda
Não tem mais o namorar
Que ninguém se iluda
Agora só tem o transar
A vida é mesmo um teatro
Chamado agora de Facebook
Todos falam de amores
E disfarçam as suas dores
Por esse mundo afora
Quem procura a felicidade
Não sabendo onde ela mora
Fica sem essa necessidade
A saudade sempre chega
Pra dizer que o que foi já era
Mas ela causa tristeza
E dela nada mais se espera
Quem se lembra das praças
Das cidades do interior
Moças e moços com graça
Procuravam por um amor
Hoje as praças são desertas
Dos jovens e de suas ilusões
E daquele romantismo resta
A saudade e a solidão
Este agora logo vai embora
Tudo transforma em passado
Pois o tempo a tudo devora
Para o futuro ser alcançado
Nós todos vamos desaparecer
Essa é a nossa sorte
Faz parte da vida o perecer
Neste mundo de vida e morte
Cada um de nós é um conto
Somos apenas uma história
De alegria tristeza e pranto
A preencherem nossa memória
Nós nascemos para morrermos
E ninguém foge desse destino
E se vivemos e até padecemos
Para o tempo somos clandestinos
O certo pro viver é menos pensar
No que na vida se possa alcançar
E sofrer por nada querer abdicar
Sabendo que tudo tem que deixar
E o tempo passa muito ligeiro
E quando nos vemos no espelho
Nada vemos de lisonjeiro
Na ligeireza que ficamos velhos
Às vezes somos tristes recordações
De nossos queridos que morreram
Foram nossa alegria e paixão
E a tristeza que nos corroeram
Mas às vezes reaparecem
Em sonhos ou na mente
E quando eles aparecem
Não estão diferentes
Parece que na existência
O recordar é constante
E em qualquer instante
Surge até sem insistência
Ah e as lembranças então
Elas sempre vêm à tona
Não respeitam o nosso não
Pensam que são nossas donas
Vivendo se chega num tempo
Tendo-se maior discernimento
De quando o contentamento
Mais existe no pensamento
E o que vem de fora
Já não mais nos amola
Pois sempre está mais vivo
Quem é meditativo e introspectivo
Afinal, a vida se resume naquilo que cada um agrupa dentro de si e isso é o ser como se é. Se alguém por toda a vida se preencheu com vazios, não terá na velhice com o que se proteger da solidão, do tédio e do “sem ter o que fazer” que aborrece o viver. Quem, ao contrário, não se preencheu com cultura inútil e enriqueceu seu cérebro com conhecimentos úteis, estes, irão protegê-lo na velhice promovendo-lhe defesa contra o que de inútil, evasivo, obvio, trivial e supérfluo venha a ameaçar a sua tranquilidade.
Altino Olimpio