Eu um qualquer em qualquer dia
Agora os dias sempre me são iguais
Em algum dia deixarei de ser um qualquer
Estarei ausente em todos os dias que vier
Sem eu para comparar se eles são iguais
Serei ausência sem a presença que fui
Quando meu último dia chegar sem avisar
Será como o fim de uma viagem
Tendo sido como um passeio por este mundo
E passageiro no veículo que foi o meu corpo
Passando pelas cidades das ilusões
Pernoitando nos hotéis das incertezas
Transitando por estradas sem ter tido rumos
Para fugir dos pensamentos que importunam
Mas eles é que agora são as minhas amizades
Somente eles conhecem a minha intimidade
Sabem da verdade que eu sou um nada no tudo
Antes de quando eu for para o inexistir
Estarei nos devaneios de querer entender a vida
Ela que me fez ser e ocupar um espaço neste mundo
E ser solitário distante das futilidades dos outros
Meus olhos que viram tanto não viram tudo
Eu que tantas coisas ouvi felizmente não ouvi tudo
Não tenho falado tanto e nunca tive tanto o que falar
Como tantos outros eu sou apenas mais um outro
Que com o passar do tempo todos serão brevidades
Ouço falar que os agoras é que são importantes
E não o passado e o futuro que estão distantes
E nesta vida contínua de tantos presentes
São instantes que depressa passam como os ventos
Me são instantes apenas sendo instantes
Tão sem as ilusões e as superstições e as vaidades
Nos meus agoras parece que a vida ficou lá fora
Não como antes agora me livro das irrelevâncias
Me basta ser o que sou e quem sou para viver
Que bom é ficar sozinho nas minhas considerações
Não sendo nada como o desprendimento quer
Ele é a vida sem os “assessórios” desnecessários
Vivendo como sendo um qualquer não há conflitos
Para ter a paz não é melhor querer ser alguém
Ela é mais encontrada quando se é ninguém
Altino Olimpio