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28/11/2022
Eu, um qualquer

Eu um qualquer em qualquer dia

Agora os dias sempre me são iguais

Em algum dia deixarei de ser um qualquer

Estarei ausente em todos os dias que vier

Sem eu para comparar se eles são iguais

Serei ausência sem a presença que fui

Quando meu último dia chegar sem avisar

Será como o fim de uma viagem

Tendo sido como um passeio por este mundo

E passageiro no veículo que foi o meu corpo

Passando pelas cidades das ilusões

Pernoitando nos hotéis das incertezas

Transitando por estradas sem ter tido rumos

Para fugir dos pensamentos que importunam

Mas eles é que agora são as minhas amizades

Somente eles conhecem a minha intimidade

Sabem da verdade que eu sou um nada no tudo

Antes de quando eu for para o inexistir

Estarei nos devaneios de querer entender a vida

Ela que me fez ser e ocupar um espaço neste mundo

E ser solitário distante das futilidades dos outros

Meus olhos que viram tanto não viram tudo

Eu que tantas coisas ouvi felizmente não ouvi tudo

Não tenho falado tanto e nunca tive tanto o que falar

Como tantos outros eu sou apenas mais um outro

Que com o passar do tempo todos serão brevidades

Ouço falar que os agoras é que são importantes

E não o passado e o futuro que estão distantes

E nesta vida contínua de tantos presentes

São instantes que depressa passam como os ventos

Me são instantes apenas sendo instantes

Tão sem as ilusões e as superstições e as vaidades

Nos meus agoras parece que a vida ficou lá fora

Não como antes agora me livro das irrelevâncias

Me basta ser o que sou e quem sou para viver

Que bom é ficar sozinho nas minhas considerações

Não sendo nada como o desprendimento quer

Ele é a vida sem os “assessórios” desnecessários

Vivendo como sendo um qualquer não há conflitos

Para ter a paz não é melhor querer ser alguém

Ela é mais encontrada quando se é ninguém

 

Altino Olimpio