Nestes tempos atuais todos estão habituados aos velórios municipais com mais conforto do que antigamente. Quase sempre, num mesmo local, coincidem vários falecidos a serem velados. Sendo assim, familiares, parentes e amigos de um falecido encontram-se com familiares, parentes e amigos de outro ou de outros falecidos. No passado era diferente. Lembrando como eram, recorro-me ao extinto Bairro da Fábrica de Caieiras onde nasci. Morrer alguém não era tão comum como é hoje. Quando isso acontecia, todos do bairro ficavam sabendo. Como lá todos se conheciam a comoção era geral. A solidariedade com a família entristecida pela perda de um ente querido era mais evidente. O velório era na casa da pessoa falecida e muitos para lá acorriam compartilhando com as tristezas dos presentes na ocasião. Os funcionários da indústria local, depois de cumprirem seus turnos, muitos deles sentiam o dever de também comparecer demonstrando assim seus pesares para os familiares da pessoa falecida. Esta, comumente ficava na sala de visitas da casa, dentro do caixão entre quatro velas acesas. Pelo acúmulo de pessoas, muitas ficavam fora da casa quando a conversa entre elas mais era sobre a pessoa falecida e assim passavam a noite quando o sepultamento seria no dia seguinte. Naqueles tempos não era tão comum como é hoje contarem piadas nos velórios. No dia seguinte, ao se aproximar à hora do féretro, o desespero invadia os familiares da pessoa falecida e se ouvia gritos, choros acompanhados de muitas lágrimas, principalmente no momento de colocar a tampa no caixão. Como não havia veiculo especial para o transporte de quem morreu o “enterro”, assim como era chamado o trajeto até ao sepultamento, ele era percorrido a pé a caminho do cemitério. Com o caixão de quem morreu indo na frente do cortejo, sustentado e levado por três homens de cada lado dele, seguindo-os vinham os acompanhantes bem numerosos às vezes. Aqueles que não acompanhavam o enterro ficavam nas janelas de suas casas ou nas proximidades para vê-lo passar. Lá no Bairro da Fábrica, o trajeto a pé do enterro era até a maquininha, trenzinho de passageiros, quando o caixão era colocado sobre um dos bancos de um vagão e os acompanhantes se instalavam noutros do mesmo e nos bancos de outros vagões da maquininha, rumo a Caieiras. Lá chegando, a continuidade do féretro voltava a ser a pé até o cemitério que ficava na Vila Cresciuma. O cemitério é o mesmo destes dias atuais, mas, não mais se fala em Vila Cresciuma, pois, ela foi englobada como sendo da Cidade de Caieiras. Antigamente parecia que a morte de alguém causava muita lástima em quem o conhecia. Agora, como tudo mudou, a população local aumentou e semanalmente temos notícias de que conhecidos morrem, parece que a morte perdeu seu fascínio em causar pesar por ter se transformado em rotina. Não como há pouco tempo atrás, quando muitos compareciam ao velório municipal para a despedida de algum conhecido ou mesmo amigo, hoje, não mais são muitos a comparecer, porque, nestes tempos muitos não têm tempo e seus compromissos sempre importantes existem por todos os seus tempos, não sobrando tempo para o tempo da despedida de alguém cujo tempo chegou ao fim.
Altino Olympio
Comentários:
Correta a abordagem caro primo, eu acrescentaria que a morte foi roubada das pessoas, tornada estranha ou como se fosse um acontecimento anormal, morre-se num hospital e vai-se para um velório, lá só os entes mais queridos sentem o momento, os demais quando comparecem é pura obrigação social, falam de tudo, deixam até o espírito do falecido constrangido..... (edson navarro)