Esses dois termos, isolamento e solidão, não
é incomum serem confundidos como sinônimos.
É possível viver isolado sem sentir solidão como também
sentir solidão, mesmo não se vivendo isolado. Tem gente sempre
rodeada por outros, se queixando de solidão e a mesma nem sempre é
presente nos que por opção vivem isolados. Esses recebem críticas
por terem perdido a ilusão de encontrar vantagens nas companhias humanas.
Dizem deles e mesmo para eles: “Já morreram e esqueceram de enterrar”.
E também “estão doentes e precisam de psicólogos”.
Tudo porque os isolados não mais se misturam com o trivial da maioria.
E a maioria requer cumplicidade para sentir segurança e apoio para seus
atos de às vezes pouco pensados. O modo de viver “Maria vai com
as outras” é a coqueluche destes tempos modernos. Quem não
segue essa “regra” é considerado retrógrado. Mas essa
regra é para quem não se suporta estando a sós com o próprio
pensamento dissociado de valores, viciado a pensar igual como pensam os outros.
Então, estar só é uma tortura e entendida como solidão.
Distrações ao mesmo nível do pensamento tornam-se necessárias
e elas são encontradas junto a outros coniventes com o mesmo comodismo
existencial. O comodismo de viver das sensações produzidas por
outros para quem é derrotado pela incapacidade de se isolar e auferir
sensação própria, derivada do silêncio isento de
influências insignificantes da massa.
Os apreciadores de seus isolamentos vivem com raros dissabores
e decepções que afligem aqueles necessitados de constantes companhias
humanas na busca de sensações. Sensações iguais
alguns isolados já viveram e se as abandonaram, é porque entenderam-nas
como inúteis ou mesmo indignas para um viver mais equilibrado livre de
emoções infantis. Como vivem, estão menos sujeitos a ocupar
suas mentes com fatos óbvios, no mais, eles sendo futilidades importantes
para reinarem entre os desprotegidos do escudo que o isolamento proporciona.
Porém, muitos dos não isolados, carregam uma vantagem sobre os
isolados. Não se sentem órfãos, pois, a mãe deles,
a Mídia, tanto os adora e protege-os da solidão. Ela impede o
sacrifício de viver e pensar por si mesmo; não permite o mal do
querer sozinho conhecer-se; ela impede a estupidez da reflexão, esse
vício pernicioso dos isolados; nunca ela deixa seus filhos sem assuntos
que com eles esquecem seus próprios, pois, não mais são
importantes mesmo.
Os auto-isolados pensam que são especiais. Além
de egoístas são mal informados. Não gostam que interfiram
em seus pensamentos, não gostam de ouvir o que é óbvio,
não conversam sobre futebol e política então nem pensar.
Perderam a felicidade de conversar com outros sobre outros que estão
num mesmo evento. Não mais compartilham do prazer de saber da vida de
outros, de como se trajam, de suas dívidas, de seus vícios e de
quem anda com quem. Viver sem isso e tudo o mais é loucura.
Os isolados ficam distantes das alegrias da vida. Nada sabem das profundas emoções
que surgem das tantas jogatinas existentes neste país. Alguns deles nem
cerveja bebem e isso por si só torna-os indignos de conviverem como cidadãos
comuns. Os isolados não costumam freqüentar religiões instituídas,
pois, preferem viver em suas próprias. Mas quem são eles para
sozinhos entenderem disso? Também, eles não participam do consumo
que apaixona a massa e por isso são destituídos do amor dedicado
a ela por tamanha contribuição financeira.
Isolamento não é solidão. Sua causa pode ter sido a perda
de significado das convenções humanas, tão banalizadas
como tão impostas atualmente. Camuflada a solidão é existente
no entremeio das participações onde mais se vive copiando o viver
dos outros. Num intermédio ela reaparece e nos faz se perguntar: “Por
que estou aqui? Que estou fazendo aqui?” Como respostas a essas perguntas,
alguns evitam o convívio humano constante.