E assim é a existência. O nascer e o morrer como únicas certezas. Entre o nascer e o morrer temos em nós a vida. Enquanto com ela, temos os nossos afetos e a eles nos apegamos. Mas, chega um dia em que nossos olhos deixam de ver e nossa consciência se desfaz. Deixamos tudo ao nos tornarmos inertes quando a vida nos deixa na inconsciência e na inexistência. A existência é um ciclo no tempo e nele vivemos como se fossemos um sonho, mas, predestinado a terminar. Nesse sonho somos a individualidade temporária conquanto ela exista no tempo antes dele findar para ela. Entre outras, somos como uma lâmpada, que, se queima num circuito elétrico. Para ela a eletricidade corrente pelos fios é a inesgotável fonte de sua existência como lâmpada funcional. Ela tem um tempo de duração e no fim dele ela se apaga. A “vida” útil nela se extingue, mas não a energia ou eletricidade que lhe proporcionava sua função de iluminar. Tal energia permanece inalterável para as outras lâmpadas ainda funcionais, antes delas também terem esgotado seus tempos de duração ou de iluminação. Como a eletricidade é a energia para a existência das lâmpadas, a vida é a energia para a existência dos seres humanos. Ambas essas energias, se manifestam enquanto os corpos em que habitam estejam aptos para elas existirem neles. Na lâmpada a energia elétrica se manifesta como brilho e no homem a energia, digamos, biológica, ela se manifesta como vida. Para os seres vivos, quaisquer que sejam eles, suas existências não são perpétuas. Eles têm início e fatalmente eles têm fim. Por isso, o homem é quem mais sofre neste planeta. Ele, acrescido de sentimentos, emoções, ambições, vaidades e tudo o mais, vive a vida regada de querências. Suas conquistas, sejam materiais ou sentimentais, considera-as como lhes sendo próprias. Teme a morte porque ela significa o sofrimento da perda de tudo. Ele desaparece de tudo o que lhe é a paixão ou razão do seu existir. O amor o faz sofrer quando alguém amado parte para sempre. Como o ser humano é dotado de memória, por vezes aparece-lhe na mente as imagens de pessoas já mortas. Pela inexistência delas, foge do pensar do ter o mesmo fim. O inconformismo sobre o desaparecimento de si próprio e de seus entes queridos é inútil diante da “pavorosa” morte, que, sempre está à espreita para retirar alguém da vida. Entretanto, os seres humanos têm seus consolos. Acreditando não ser o corpo e sim a alma invisível que habita nele ser o nosso ser real, para essa convicção da maioria dos seres humanos, existem rituais religiosos em prol das almas desencarnadas. Isso conforta muitas pessoas na crença popular do não existir a morte e sim existir a continuidade da existência. Porém, até onde somos comprovados, no nascer já está o prognóstico de morrer. Entre o nascer e o morrer está o ciclo do nosso viver, quando, apenas quando podemos desfrutar das alegrias humanas provenientes do viver encarnado. Desencarnados não mais seremos humanos. Contudo, igual como na natureza, onde tudo nasce e vem a morrer, a morte nos existe, sim, pois, somos partes dela. Morremos para os nossos familiares, morremos para a nossa casa, morremos para os bens adquiridos, embora, eles continuem a existir para outros. Morremos para os entretenimentos do nosso agrado e etc. A morte tristemente afeta os seres humanos e não a mãe natureza, assim como a chamam. Ela é indiferente com a sorte de seus rebentos e a energia de vida ainda é mistério. Qual seria o propósito da vida, se é que algum existe? Sobre isso ainda estamos “tateando nas trevas”. Continuemos, então, nos entristecendo com a perda da convivência daqueles estimados ao nos deixar saudosos deles.
Altino Olympio