Faz muitos anos que aqui cheguei
Não me lembro de quando abri os olhos
Ainda não havia consciência
Pensamento também não havia
Foram muitos dias sem ser e sem saber
As imagens que eu apenas percebia
Não havia como distingui-las
Nada na memória para compará-las
Por isso no início eram confusas
Onde eu estava ou onde ficava
Era apenas um estar e ficar
Ainda não me existia o me importar
Não sabia como sabia chorar
A reclamar pelo querer mamar
Todo aquele nada de entender do que via
Desaparecia no sono que era incontrolável
Mas controlava o fechar dos meus olhos
E eu por muitas vezes sorria dormindo
Saber do que ou do porque do sorriso
Isso sempre foi incógnita e mistério
Quando no meu engatinhar era o alegrar
Para outros rirem me vendo engraçado
Depois nas tentativas de me levantar
De me equilibrar para poder andar
Sempre cambaleava ao ir até aos braços
De quem me amava e me amparava
Eram sorrisos e gritinhos na felicidade
Pueril vivida sem saber que era felicidade
Foram tempos sem contratempos
Na pureza da inocência criança ingênua
Mas o tempo sempre sem nunca pausar
Ele não é de parar e nem de amparar
Independente alheio de tudo segue seu curso
Não está a existir para servir de recurso
Naquele tempo de uma parte do tempo infinito
Vim a nascer e ser uma criança a crescer
Na infância o mundo era tão grande
Eu me via tão pequeno iluminado pelo sol
As noites eram muito escuras se não tinham lua
Eram de penumbra quando havia o luar
Foram encantos os pisca-piscas dos pirilampos
Na juventude a procura era por emoções
Sem saber que muitas seriam apenas de ilusões
Gostava-se de alguém pensando ser para sempre
Mas o destino interferia e tudo desfazia
A juventude era muito bem vivida
Antes de surgirem às responsabilidades da vida
Elas chegaram com a maturidade de ser adulto
Nessa fase tudo transcorreu como capítulos
Foram alegrias decepções perdas e tristezas
Sendo a fase da vida mais sujeita às implicações
Infância juventude e maturidade viajaram rápido
E desembarcaram nesta minha estação das recordações
Ela que é a estação final das aventuras e ilusões
Neste mundo de agora ausente das atrações de outrora
Pra quem ano a ano considera sem graça os cotidianos
No parecer que o mundo é divertido pra quem é iludido
Tolerando o constante desenfrear da decadência humana
Existente sob o céu azul anil neste gigante que é o Brasil
Para a velhice os presentes são sem futuro
Todos os dias parecem iguais e vazios de interesse
Os fatos diários logo somem da memória
Perdem na importância para os do pretérito
Eles sem querer sempre aparecem e reaparecem
Se agradáveis de lembrar eles são saudades
Se forem indesejáveis eles torturam a mente
Felicidade mesmo só a de quando criança
Quando como criança sem transtornos se vive a vida
Na velhice quando o velho para andar está a se apoiar
Pouco está a escutar e menos está a enxergar
Com a perda de energia a lhe dificultar
Mais ele vive por viver sem ter o que esperar
Até quando a morte chegar e a vida lhe acabar
Assim a morte é na vida o terminar dela
Para o retorno de o nada ser que se era