15/07/2008Os Protegidos
Solteiro e na maturidade dos cinqüenta anos, levava muito a sério os seus estudos para desenvolvimento mental e espiritual. Antes de sair de casa para quaisquer compromissos, crédulo nos exercícios aprendidos durante seu noviciado numa organização, acreditava na eficácia deles como sendo protetores diários. Mas, num dia quando ele estava com a mãe em seu automóvel, de dentro de um outro ao passar por eles, um inconseqüente deu-lhe um tiro de revolver. Mesmo atingido no peito o “sempre protegido” conseguiu dirigir seu carro até um hospital para ser socorrido.
Depois de restabelecido voltou ao convívio com seus iguais no local de seus encontros semanais. Lá, ao contar sobre aquele incidente que poderia ter-lhe sido fatal, um médico também pertencente à mesma organização, depois de ouvi-lo fez-lhe uma crítica: Isso aconteceu porque não estavas harmonizado. Como pode um adepto tão antigo se deixar desarmonizar? Explicando, estar harmonizado é estar em sintonia com os poderes cósmicos e para isso, vários exercícios são recomendados. O médico era uma pessoa proeminente naquela organização onde cooperando com ela ministrava palestras sobre saúde.
Depois dessa conversa e num dia quando o médico estava com a sua família numa conhecida cidade praiana, alguns homens armados invadiram sua casa. O filho do médico esboçou reação de defesa e um dos invasores efetuou um disparo com sua arma e o projétil penetrou na cabeça do médico. Hospitalizado se salvou e por uns dois anos pouco se soube de sua vida até quando restabelecido retornou às atividades que exercia naquela organização mística.
Nesses dois casos quando duas pessoas sofreram atentado contra suas vidas, conclui-se que os “harmonizados e protegidos” por poderes transcendentais, não se diferenciam das demais pessoas tidas como comuns por eles. As fatalidades não querem saber se suas vítimas têm alguma proteção especial ou sejam harmonizadas com o cósmico, para livrar-se delas. Mesmo as crianças, antigamente tidas como anjos e protegidas por Deus, sabe-se, nem elas escapam das fatalidades ou crueldades. A vida sempre mostra suas realidades, mesmo inutilmente, porque, muitos persistem ainda em se iludirem nessas utopias que suas psiques absorvem e vivem na superstição dos poderes especiais de proteção.
Altino Olímpio