Na paz do entardecer ao ouvir a música “Índia”, guarânia que foi famosa, ela me fez refletir sobre a diferença do viver entre os índios e os homens “civilizados”. Ao ouvir a música e repetindo-a para mais puxar da memória imagens e fatos indígenas vistos no cinema, isso aguçou minha imaginação e com ela “viajei” até o local de uma tribo qualquer. Cheguei lá à noite sob um luar de lua cheia. Naquele espaço descampado com a selva ao redor, circulei acompanhando o círculo das tendas que estavam ao redor de uma fogueira ainda em brasa e esfumaçando. Pareciam ser bonitas aquelas tendas, iguais as já vistas em filmes. Naquele silêncio parecido ser divino, às vezes se ouvia o canto da coruja e de outras aves noturnas.
Quando uma nuvem encobria a claridade da lua, mais se destacavam as estrelas. Circunstância forçosa no provocar reflexões e elas vieram. Emocionaram-me por me sentir tão pequeno, tão fugaz diante da imensidão e por saber que nunca iria saber dos seus mistérios e nem dos mistérios da vida. Nessa insignificância sentida até havia me esquecido de onde estava. Entretanto, ao amanhecer na tribo fiquei vendo os índios em suas simples tarefas diárias. Por séculos e séculos parece que sempre foram iguais. Vivendo em tendas, caçando, pescando, se alimentando também de frutas, de milho e de mandioca. Vivendo em suas tendas nenhuma tinha escritura de propriedade e nem o solo por onde pisavam. Viviam na liberdade do ir e vir. O ter e o ser eram conceitos que não lhes existiam. Respeitavam a natureza como lhes sendo a doadora de tudo o que necessitavam. Pareciam viver em harmonia e sem disputas no lema “índio não explora e não mata índio”.
Talvez até estes dias eles mantivessem seus estilos de vida rudimentar sem o conforto, sem o progresso, sem a modernidade com a ciência e a tecnologia conforme nós hoje as conhecemos e usufruímos. Verdade, os índios foram ingênuos e supersticiosos ao acreditarem como sendo deuses o sol, a lua, o raio, o trovão e etc... Teriam sido mais ingênuos e supersticiosos do que os homens tidos como civilizados que se abstraem com invisibilidades divinas tendo-as como suas benfeitoras e protetoras? Tais invisibilidades estariam também a julgá-los e castigá-los pelas suas faltas cometidas contra elas? Sobre quem seria mais ingênuo, se os índios ou os “civilizados”, esta comparação deveria estar a provocar reflexões. Mas, com a imaginação ainda atuante sobre os índios, imaginei como seria este país apenas com a existência deles e sem a nossa.
Nenhuma poluição existiria. Nenhuma criatura da fauna teria ameaça de extinção. Nenhum desmatamento existiria. Assaltos, assassinatos e estupros, talvez, também não. Política contendo políticos falsos, ignorantes e corruptos que envergonham e decepcionam a raça humana, também não existiriam. Não existiria um poder administrativo geral, um só governo, pois, cada tribo a si mesmo se administraria. Ninguém precisaria ir pra escola e sofrer por causa do estudo da matemática (risos). Não existiriam os “escolhidos” por Deus para contar lorotas do outro mundo (risos). Futebol só seria permitido entre os canibais que chutariam pro gol uma cabeça decepada de algum selvagem de outra tribo rival (risos). Não haveria lixões, não haveria água encanada e nem falta d’água, não haveria motéis, não haveria passeata gay, não haveria novelas, não haveria roupa para comprar ou vender, não haveria.... Tanta coisa não existiria, mas, o leitor também pode se lembrar do que mais não haveria se este país só fosse habitado por índios pelados.... Nudistas (risos).
Por que será que “me deu na telha” de ouvir aquela música “Índia” nesta tarde tão promissora para “afiar ou amolar” a minha cultura. A música me provocou o devaneio e me vi no imaginar dos índios em seus costumes corriqueiros. Ah, também vi mandiocas e me lembrei de nossa presidente.