Às vezes me pergunto porque estou ficando cada vez mais calado
As conversas se tornaram apenas sendo conversas
Às vezes parece que as pessoas não têm mais o que conversar
Mas conversam apenas pelo vício de conversar
Ainda bem que o pensamento substitui as conversas
Pelo pensamento converso comigo mesmo
E se conversamos é em silêncio sem o ruído das vozes
Que são sons que às vezes me enjoam de ouvi-los
Só depois de ter vivido muitos “ontens” é que aprendi a me ouvir
Agora estou sempre me ouvindo ao invés de ouvir outros
Quando eu mesmo me “ouço” só ouço o que quero
Eu sempre saio por ai ou sempre saio por aqui donde moro
Durante a pandemia eu também sempre saia por aqui
Sempre meus passeios são por aqui ou por ali
E são meus turismos pelos supermercados da vida
Faz tempo que a viuvez me impôs esse destino
Que muito me distrai e muito me descontrai
Tudo o que vejo nos supermercados
São alegrias para os meus olhos
As cores dos produtos provenientes da natureza
Das hortaliças e dos frutos dos pomares
Parecem que ficam lado a lado exibindo suas belezas
Tudo tem o seu preço e eu quase sei o preço de tudo
Se o governo deste pais souber disso tudo que sei
Ele vai querer que eu seja o ministro da economia
Mas a melhor economia de vida que eu tive
Foi a de nunca ter pensado em ser político
Uma vez de quando eu estava à toa na vida
Como agora que à toa sempre estou
Me veio na mente uma recordação do passado
As recordações são sempre do passado
Só as esperanças é que ficam no futuro
Mas o estar à toa pode estar em qualquer presente
E naquele dia em que eu estava à toa na vida
Meu pensamento me disse que não se pode livrar
Dos presentes que são subsequentes
E que nunca sabemos do que eles nos podem trazer
Tudo o que me aconteceu lá no passado foi cógnito
Se ainda existe algo para me acontecer nesta vida
Nesta vida tudo me é incógnito no mais nada a desejar
Aonde foram parar os desejos, as paixões, as ambições
As ilusões, as vaidades, os temores e as emoções
Que foram derrotadas agora pelo “estar à toa na vida”?
Antigamente eu gostava de saber de tudo que não sabia
Não sabia que na velhice tudo o que sabia de nada servia
Mas aprendi que pra viver nada se precisa aprender
A vida não tem os mesmos ensinos que temos no viver
Como o ensino primário ou fundamental
Depois o ensino médio e depois a faculdade
A vida por si mesma já seria um ensino
Aquele do basta viver para aprender
Ser só o que se é sem querer ser o que não se é
E assim a vida transcorre até quando se morre
Ela ensina a viver mas a ninguém ensina a morrer
E é por isso que muitos morrem sem saber (risos)
Sou do tempo de ir catar goiaba nas matas
E também de catar pinhão que caia pelo chão
Também de beber água de cascata
Fui de me balançar em cipós
Imitei macacos ao subir em árvores
Pesquei e nadei em lagoas
Joguei futebol com bola de meia
Quando tinha chuva de pedra
Eu chupava as pedrinhas de gelo com açúcar
Fui de rodar pião, jogar bafo com figurinhas
Fui de fazer cabana na mata
E fui de fazer tantas coisas que os meninos faziam
E hoje tem meninos que nunca viram uma bananeira
É difícil vê-los a brincar pelas ruas
Hoje mais eles “desbrincam” com os seus celulares
Telefones estes que modificam as suas infâncias
E com isso seus pais dispensam até as babás
Quem ainda canta aquela música... ...
“Criança feliz que vive a cantar
Alegre a embalar seu sonho infantil
Ó meu bom Jesus que a todos conduz
Olhai as crianças do nosso Brasil
Altino Olimpio