07/02/2023
“É preciso voltar a ser criança para entrar no reino do céu”.

“É preciso voltar a ser criança para entrar no reino do céu”. É mesmo, quando eu era criança o mundo parecia ser o céu, ele era grande e tinha tanta coisa para se ver e tudo era para usufruir. Quando eu deixei de chorar porque às vezes eu perdia a chupeta, a vida e o tempo foram me moldando para que eu viesse a ser uma criança tendo a inocência e a ingenuidade para ver o mundo como ele era, embora, limitado pelos espaços de onde eu vivia. Entretanto, naqueles espaços que pareciam que me foram destinados, eles já continham todo o encantamento que uma criança podia sentir ou perceber.

Dias claros de sol quente, noites cheias de estrelas, dias de chuva com ventania levantando poeira provocando a dança das árvores. Ver as manifestações da natureza era o melhor espetáculo que se assistia pela janela de casa e eram sem a criação dos homens. Tudo contribuía para a admiração das crianças e parecia ser indiferente para os adultos. Nas noites de calor e de luar a meninada, meninos e meninas se reuniam na rua para praticar várias de suas brincadeira. Brincavam de piques, de queimado, sob a luz fraca do poste brincavam com petecas, brincavam de pular corda e brincavam de roda. Hoje esses nomes são lembrados apenas pelos mais antigos, isso porque as crianças perderam os seus espaços para brincarem nas ruas.

As brincadeiras de roda eram acompanhadas por cantos: “Rebola, bola, você diz que dá e dá mas na bola você não dá” (risos). “A canoa virou por deixar ela virar, foi por causa da Maria que não soube remar. Siriri pra cá siriri pra lá, a Maria é velha e quer casar” Outra brincadeira, a mais “romântica” era aquela que uma menina por sua vez circulava por dentro da roda para escolher alguém para se casar e rebolando ia cantando: “Este não me serve, este não me agrada”, cantava assim até quando ficava de frente com quem tinha escolhido e cantava: “Só aqui, só aqui eu hei de amar” e juntos todos da roda cantavam: “A moça que está na roda escolhe o moço para se casar”.

Quando se era criança parecia que o paraíso do céu era na terra, Mas, como se volta a ser criança para se entrar no reino do céu? Como penso, a maioria dos adultos com os seus tantos desentendimentos, ilusões e superstições já voltaram a ser crianças. Mas, não crianças como eu fui como quando gostava de chutar lata vazia pelas ruas. Ou, quando eu gostava de ficar sozinho na beira do rio para pensar. O pensar sentindo-me integrado com a natureza me nutria de sentimentos difíceis de serem compartilhados para outros.

O passar ininterrupto do tempo deixa tudo para trás, principalmente os tempos de criança. Coisas de criança o cérebro pode recompô-las como num filme ou num vídeo. Assim me apareceu o meu gato amarelo que ferido num dos olhos só enxergava por um deles. Assisti, então, a cena de quando ele com uma das patas abria uma das portinhas da dispensa (armário de cozinha) para roubar algum alimento que estivesse lá e correndo saia para o quintal de casa levando pela boca o que tinha conseguido abocanhar. Vi minha mãe brava correndo atrás dele e o xingando de ladrão sem vergonha (risos). Eu nunca soube o que aconteceu com aquele gato, se havia morrido ou desaparecido. Ele ainda é recordação das minhas coisas de criança.

Penso que não há o regresso para o ingresso do adulto no céu que volta a ser como se era quando era criança. Isso só pode ser uma metáfora para que o homem seja bom para os outros. O homem é um desconhecido para si mesmo até a sua morte e é por isso que ele comete erros contra si mesmo e para outros. Inclui-se em seus erros as guerras e o provocar de tragédias tidas como genocídio e etc. Entretanto, muitos voltam sim a ser como crianças quando na velhice suas capacidades mentais entram em declínio. Mas, isso parece que nada tem a ver com ir para o céu depois de ter se tornado criança ainda sendo adulto (risos).

Nestes tempos férteis para que cada qual possa se corresponder com outros mesmo à distância devido a tecnologia moderna, parece que os adultos são crianças desmamados (risos). Isso, devido aos seus comportamentos iguais aqueles de quando em criança acreditavam em Papai Noel. Eles não perceberam que ao crescerem foram sendo vítimas das armadilhas do mundo. Aquelas que preencheram as suas cabeças com tantos supérfluos e incoerências e até com absurdos que os distanciaram das realidades da vida para que fosse facilitado o domínio sobre eles, como hoje é bem percebido, mas, por poucos e não por todos.

Hoje, nestes tempos tornados confusos, o homem moderno agora vivendo preso pela modernidade, ele foi sendo desviado dos valores da antiguidade. Nem as crianças vão voltar a serem crianças como as crianças eram crianças de verdade de quando tinham os seus espaços para brincar e bem relacionadas que eram com outras em seus “mundos infantis” encantados. Agora os perigos das ruas fazem com que elas mais fiquem reclusas em suas casas depois de já terem ido pra escola. A ausência delas pelas ruas deve ter tido início depois que as cegonhas não mais as trouxeram para o mundo trazendo-as com os seus bicos (risos).

Altino Olimpio



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