11/07/2022
Círculo desfeito

---Hei, hei, hei, Altino de Perus, quanto tempo hein? Tudo bem com você? ---Opa opa que surpresa agradável. Sim, comigo tudo está bem.

---Escuta, vamos sair desta agitação humana por aqui e vamos até ali no Brahma tomar cerveja?

---Vamos sim, está calor mesmo.

---Aqui está tudo tranquilo. E você peruense, tens tido notícias daquele nosso pessoal que gostava de decifrar mistérios da existência que eram indecifráveis? (Risos)

---Esporádicas, desde que o nosso círculo se desfez e já faz tempo, não?

---Interessante... Quase todos acabaram se envolvendo num romance como se toda aquela busca por evolução interior se resumisse nisso. E a Divina Loucura você a tem visto? Como ela era bonita, não?

---Muito, se todas as mulheres fossem iguais a ela não existiriam homens impotentes (risos).

---Parecia haver algo especial entre vocês, não é peruense?

---Ela me crivava de perguntas, só isso.

---Não me diga que nunca saíram juntos?

---Uma vez e deu tudo errado. Numa quarta-feira lá pelas vinte horas apanhei-a defronte o seu apartamento e fomos para um restaurante. Muito conversamos e depois a magia do ambiente com ela envolveu-me.

Fiquei absorvido pelo perfume dela, pela sua aura, pelos seus trejeitos e por aqueles olhos verdes tão lindos. Me senti perdido e até pensando já estar apaixonado por ela e lá mesmo logo me desapaixonei (risos). Talvez por causa do efeito da bebida que faz com que muitos revelem seus segredos, ela me foi falando: Saiba peruense, eu tenho a vida que quero. Sou muito cobiçada e homens importantes sentem-se orgulhosos com a minha presença. Por isso jamais serei de um homem pobre.

---Caramba peruense, que balde de água fria ela derramou em você.

---Isso mesmo! Quando entramos no restaurante pareceu que eu havia entrado lá com um fada e quando de lá saímos pareceu que lá estive com uma velha bruxa (risos).

---E depois você tornou a vê-la?

---Não, mas, ela me telefonou algumas vezes. Na última vez ela me disse que estava indo pra Europa. Até fez um comentário sobre o meu modo de ser: “Mas você, hein? Com aquele fusca vermelho, com aqueles assuntos sobre domínio das emoções, dos instintos, dos pensamentos e etc. me fez pensar que você não tinha interesse por mulheres”. Isso me fez rir. Então eu disse à ela que eu só me declarava a alguma mulher se fosse bem evidente o interesse que ela teria por mim e tal interesse eu não havia percebido nela.

Já que a conversa estava indo por rumos diferenciados dos habituais, eu disse à ela que em todas as reuniões de grupos pertencentes a essas tais de sociedades ou instituições filosóficas e esotéricas para a evolução mental e espiritual de homens e de mulheres, quase sempre tudo termina em sexo (risos).

--Por falar nisso, você ainda continua com aqueles estudos sobre aqueles temas, digamos transcendentais que nós discutíamos quando nosso círculo de amigos estava interessado em obter conhecimentos, aqueles que as pessoas simples nem imaginam que existem?

---Não, me aposentei dessas coisas que só povoam nas cabeças dos homens e não são encontráveis fora delas. Mas evolui sim! Todos os dias limpo o cocô dos meus gatos e sou agora turista de supermercado. Li não me lembro onde o que uma pessoa disse: A melhor sabedoria que existe é aquela de não se saber de nada (risos).

Altino Olimpio



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