Em todos os nossos presentes nós sempre estamos no
nosso passado. Quando estamos reunidos com outros, quase tudo do que conversamos
já é passado, e tão habituados com isso, não percebemos
que o nosso viver é assim. O passado nos “amarra” a ele e
nos impede sermos conforme são os nossos presentes. Nossos passados existiram
em nossos antigos presentes subseqüentes, ininterruptos, porém,
neste presente de agora como nos subseqüentes presentes futuros, todo o
passado somente é e está na memória. Indisciplinada, nossa
memória ao invés de ser nossa empregada, atua como se fosse nossa
patroa. Ela tem um poder muito forte para interferir no nosso presente para
nos “puxar” para o passado que deixou de ser existente e nem sempre
serve para o nosso presente. A memória é o registro de nossas
experiências e elas sempre se transferem para os nossos presentes para
serem confrontadas com experiências outras correlatas, quando, nos auxilia
a evitar enganos do passado e mesmo não repeti-los se de novo se apresentarem.
Entretanto, quando demoramos rememorando um fato passado, ele torna inexistente
o nosso presente e nos torna distraídos de nós mesmos. Muitos
são viciados em seus passados, eles sendo suas paixões. Alegres
ou tristes, sempre estão a rememorá-los.
Como nada possuem para viverem em seus presentes, ficam na dependência
de outros por perto para se lastimarem ou se vangloriarem de seus passados.
Nessa circunstância, alguns que nem querem reviver seus passados, são
obrigados a se reviverem nos passados dos outros e se lhes é desagradável,
educadamente passam a evitá-los. Nem sempre, mas, os viciados em memória
são os mais velhos e neles encontramos seus despreparos para a velhice
quando percebemos seus cérebros só sendo passado perdido no presente.
Sempre sermos subordinados da memória tem a ver com
a falta de controle do pensamento. Podemos escolher os pensamentos que a memória
nos transmite, escolher aqueles úteis ou mesmo nenhum. Com o passar do
tempo e ela “sentindo-se rejeitada”, diminui seu poder sobre nós
e nós poderemos se situar mais no nosso presente.
Sempre “se estando no presente” estamos mais receptivos para as
atualidades e não nos sentiremos ultrapassados. Até podemos perceber
que o nosso passado não mais se “encaixa” neste cotidiano
e evitamos mencioná-lo para outros. Pois, incessante, a vida é
uma continuidade de novos conhecimentos, sempre os deixando para trás
com a vinda de outros. Só o ser humano como num “parar a vida”
detém conhecimentos em si e às vezes utiliza-se só dos
mesmos, enquanto outros utilizam conhecimentos ou conceitos mais atuais. Essa
diferença entre seres humanos ocasiona o desencontro entre eles. Apenas
se suportam pelo dever, obrigação moral, “amor”, compaixão
e consideração.
Muitos, esquecendo-se do dever de proteger suas integridades,
associam-se a outros para ouvirem histórias milenares que sobrecarregam
suas memórias com fatos a serem imitados, impossibilitados de serem.
Tudo perpassa pelo intelecto e nele morre antes de se concretizar como prática
no mundo. Mas, a memória detém tudo que ouviu, dando-lhe vida
apenas em si mesma para tudo intelectualizar com memórias afins, “conhecedoras”
do passado, todo aquele que dispensa o progresso mental até o presente.
Contudo, filtrar o que a memória deva arquivar, seria uma proteção
contra os devaneios ou desvarios que ela promove quando interfere com o nosso
presente, atrapalhando-o de ser mais útil e real como ele se apresenta.