31/10/2006Ir e Vir, Chegar e VoltarNas estações de embarque para o metrô, mais especificamente naquelas para baldeações onde o fluxo de gente é muito maior, vemos pessoas sempre apressadas e suas fisionomias denotam suas preocupações para a obrigatoriedade de manterem ou conseguirem melhores recursos para as suas sobrevivências, sendo a exigência de suas existências. Naquele “cada um com o seu destino” podemos pressentir a multiplicidade de diferentes ocupações, pelas quais, os seres humanos se envolvem. E parece não haver escapatória. Depois de crianças, todos ficam vítimas das necessidades. Vítimas também, os pais ao se submeterem aos instintos da força sexual, são inconscientes dela ser o instrumento e anseio da natureza pela multiplicação da espécie humana. Em seus atos eróticos, autômatos, nunca estão presentes pedidos de filhos para nascerem. Ausente também é a consciência sobre o porvir deles e neles se acercarem às necessidades de suas sobrevivências, às vezes difíceis de serem supridas. Sobre os problemas da existência, é até engraçado lembrarmos de uma conversa entre um guru e o seu discípulo, lida num livro:
---Mestre! O que é melhor?
---Melhor é não ter nascido.
---O que, mestre? Mas, eu nasci! Então, o que é melhor para mim?
---Seu burro! Então, quanto mais cedo morrer é que é melhor.
Com certeza, a conclusão do guru desagrada qualquer um. Mas, voltando às estações de metrô e ao vai-e-vem das pessoas, cada uma está procurando “o seu lugar no mundo” ou, trabalhando para manter e continuar no lugar já conquistado como sendo o seu. Essa luta para se encontrar no “como se pretende ser ou continuar a ser”, não é incomum trazer muitos dissabores. Na verdade, o “pretender ser” é o “conseguir ter” para se viver com mais conforto, ganhar mais admiração, respeito, e muito mais consideração sobre si. Ninguém carrega consigo o pensamento sobre o mistério ou “acidente” do porque se vem ao mundo, qual o propósito e se existe um. E assim, diariamente, todos se deslocam para seus locais “preparatórios” para conseguirem os seus desejos onde, qualquer um desses locais é apenas uma “máquina” a fabricar as distrações e os esquecimentos de si mesmos.
Muitos anos de nossas vidas nós doamos para as “engrenagens” da sociedade e a sua recíproca não é igual para todos. Entretanto, para suportar as agruras da vida, os homens “fabricaram” muitos paliativos como compensações. Sendo uma delas, nos recônditos de cada um, especialmente nos mais simples, foi colocada a inocência de uma concepção abstrata a intermediar seus passos. Tudo a lhes ocorrer faz parte de um destino já traçado por aquela concepção. Conseqüentemente, o se conformar com a falta de “sorte” ou, se conformar com uma vida de pouco conforto, mantém “mansos” perante a sociedade onde vivem, aqueles “privilegiados” com as dissertações sobre suas vidas, oriundas daquela concepção abstrata colocada em seus âmagos. Quem já participou e se afastou desse corre-corre pelas estações das incertezas da vida, tem muita compreensão das necessidades desses, no mais das vezes, filhos dos acasos. Para os sofridos e inconformados com suas situações, a resposta daquele guru ao discípulo, pode não parecer tão absurda e até poderá levá-los pensar: O que é que eu estou fazendo aqui?
Altino Olímpio