16/02/2009
Só vendo o dia passar

A janela dos fundos de casa descortina o silêncio nas poucas coisas visíveis como muros, paredes, árvore do quintal do vizinho, tudo servindo de contenção contra a visão de seres humanos. Serena, a mente se sente revigorada sem a presença deles. Eles são acúmulos, são desejosos de transferir seus depósitos de insignificâncias para outros. Neutra, a tarde vai caminhando sendo como ela mesma é, indiferente e ausente das aberrações humanas tornadas entretenimento entre todos eles. O olhar às vezes fica parado parecendo querer parar o pensamento e ele também é um querer nada pensar, um se sentir parar. Nesses momentos de quando nada fazemos nos desfazemos do como nos reconhecemos naquilo que fazemos. À distância e ao redor tudo conspira para o viver sem sentir importância sendo assim melhor. Sem pensamento olhando pra fora o dia é claridade, é espaço, é tempo e tudo numa mesma hora. Influente se apresenta no presente não tendo passado e futuro, pois, eles lhes são inexistentes. Os dias subseqüentes nada são dos dias antecedentes. Nós, não! Somos o que fomos se somando com o que estamos sendo, querendo ou não querendo. Todavia, igualar-se ao dia de fora da janela quando ele é apenas ele sem resquícios de outros dias, isso, torna-nos absortos num sentimento de apenas sermos um momento no esquecimento de todos os outros de quando o “quem somos” é lembrado. Momento de nada ser, nada ter, nada querer é ter a paz como contentamento tendo o dia como complemento.



Altino Olímpio

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