A vida de cada um começa com o vazio de seu cérebro
iniciando seu preenchimento desde criança até a maturidade. É
quando cada um pode se “ver” como se tornou.
“Olhando” para o passado e a partir dele vir até o presente
que se encontra, tudo o que rememorar ou não, terá sido seu preenchimento,
aquilo que qualquer pessoa é.
Até então, o viver pode ter sido apenas dedicado às contingências
da existência, sendo uma delas como exemplo, o longo período de
trabalho necessário para auferir recursos para o sustento e adquirir
bens materiais.
Nessa seqüência de sobrevivência e conseguimentos materiais,
o homem se aprisiona no se capacitar para as disputas e exigências da
sociedade, onde e quando, seu reconhecimento só é válido
se contribui com seus encargos sociais.
Existindo na clandestinidade, o homem é considerado desprezado. Nada
formalizado em seu nome, ele é visto como fracassado e apenas tolerado
por outros que se julgam superiores por serem “normais” como bem
estabelecidos na sociedade e possuidores de confortos respeitados e desejados.
Nesse panorama existencial sistematizado de donde o homem não
consegue se libertar, distraído ou iludido, ele vive pelo passar de seus
anos, envolvido pelo material existir, acreditando nele como sua segurança
futura. É difícil ele conseguir separar o que ao corpo pertence
do que pertence à sua cabeça. Quando se aposenta, se encontra
obrigado a manter seus recursos à altura de seus pertences e eles se
tornarão mais importantes que sua vida que vida deixou de ser para seus
pertences serem sua vida. Por essa altura dos acontecimentos, seu organismo
já perdeu parte da força que o mantinha ativo para suas conquistas
e o homem se agarra no que possui. Claro, ainda pensa que ele é o que
ele tem. Essa escravidão impede muitos de se aposentarem e dão
satisfações dizendo não conseguirem viver sem fazer nada.
Se pelo menos soubessem, poderiam confessar terem decorrido seus anos, no automatismo
de suas ocupações, sem se preocuparem com outras, aquelas das
propriedades invisíveis da cabeça, que sem encargos sociais, recoloca
em si mesmo o homem em seu “ser” sem o seu “ter”, esse
ter que provoca o divórcio entre o corpo e o espírito.
Muitos, depois do tudo de suas vidas, encontram-se perdidos
em seus vazios inexplicáveis, apesar de tudo terem feito, igual, pior,
ou, melhor que outros.
Tais desiludidos se merecem na sentença: “Nadou, nadou e vai morrer
na praia”.
Embora não sendo para todos, “aposentar é acordar”
porque o homem se liberta de suas “obrigações” com
a sociedade e é quando percebe de fato o quanto esteve amarrado nas exigências
dela, cuja conseqüência resultou no despreparo para sua velhice,
naquele “não sei o que fazer, eu não tenho o que fazer”.
Aposentar é acordar, quando o homem se dedica mais pelas suas “propriedades
invisíveis”, se as tiver, sendo elas suas habilidades mentais e
respaldo para viver distanciado das contrariedades que afetam muitos. Assim
saberá quando é preciso se isolar da sociedade, livrando-se do
ônus imposto pela participação nela.
Então, mais dedicado a si mesmo, o viver torna-se mais consciente e preenchido.