No dia 21 de janeiro de 1993, uma quinta-feira, o trem das
11:56 horas em Perus (bairro da zona oeste), distante cerca de 30 Km da cidade
de São Paulo) passou pela estação às 12:15 horas,
já atrasado.
Após percorrer apenas uns 500 metros, ele parou.
Eu estava no primeiro vagão, descontraído conversando com a Ângela,
uma vizinha e amiga de minha família.
Ao ouvir um tropel, deparei-me com uma manada humana vindo do segundo vagão,
atropelando todos que se encontravam pela frente, generalizando o pânico.
O pavor estampado nos seus rostos, parecia um terrível filme de terror.
As cenas alternavam-se rapidamente: Gritaria, empurrões e atropelos naquele
salve-se quem puder. Cheguei a pensar que o motivo daquela debandada, fosse
algum tiroteio no segundo vagão.
Perguntei para um daqueles que estavam se matando, o que estava acontecendo
e ele rapidamente respondeu-me que não sabia.
Um marmanjo pisoteou uma criança - eu vi - e pela cara dele, deduzi,
pisotearia em quantas precisasse para se safar, mesmo não sabendo, safar-se
de que.
As portas do trem abriram-se e ato inconsciente e continuo, muitas pessoas pularam
para fora, inclusive mulheres com crianças de colo.
A essa altura do acontecimento, percebi que minha amiga Angela havia sumido.
Percorri o interior do vagão com o olhar mas, não a vi. Vi-a depois,
quando olhei para fora do trem. Ela estava ao lado dos trilhos onde circulam
os trens no sentido contrario do trem parado e vi-a pouco antes duma composição
interpor-se entre nós. Imaginam o perigo!
Como a Angela, muitas pessoas haviam abandonado o trem ao pularem, algumas mulheres
se machucaram e foram atendidas por soldados da Policia Metropolitana cuja sede,
felizmente situa-se próxima à estação de trem.
Dentro do trem ainda parado, observei pessoas atemorizadas, algumas tremendo
e outras rezando, as sacolas e embrulhos espalhados pelo chão, pareciam
a conseqüência de um terremoto.
Ao retornarmos a pé e entre os trilhos para o centro de Perus, perguntei
à amiga, porque ela havia pulado do trem e expondo-se ao perigo de ser
atropelada por outro, ela respondeu-me ter sido forçada pela turba que
sem duvida a esmagaria se não pulasse.
Bem! O que motivou o estourou da manada foi apenas um principio de fogo e isso,
no ultimo vagão.
Tal como foi, da pratica depreendi, onde termina o “amor ao próximo”.
Esse conceito, infelizmente apenas intelectual, não funciona quando o
pânico torna irracionais as pessoas, revelando-lhe apenas com seu amor
próprio.