Lembrando daquele dia e revivendo-o mentalmente:
Já é hora de me enfiar na sala e só sair quando a decisão for decidida por aquele homem destemido. Ele é que vai colocar o país nos trilhos.
--Pai, se você for dar um giro por ai não se esqueça de comprar pão.
--Eu sair? De jeito nenhum. Estou assistindo um julgamento muito sério.
Que legal, ele já começou a ler e a discorrer sobre a questão em pauta. Que homem inteligente, ele está lendo e lendo em voz alta justificativas de como ele vai dar o seu voto no final. Muitos e muitos brasileiros estão assistindo e estão atentos ao que ele lê. Claro que ele não vai decepciona... ... ... Puxa-vida quanto tempo já se passou e ele ainda não deu seu parecer. Vênia data, mas, ele já está enchendo o saco, não para mais de ler e de falar o que lê. Estou precisando ir ao banheiro... Ah não vou, não quero perder de ver e ouvi-lo dar o voto. Os outros que estão lá devem ter inveja dele por ele ser tão coerente e nunca “mijar pra trás”. Seu voto de minerva será correto. Claro, até o mais sábio de todos os sábios, o Doski, ele já havia dito que não havia provas de formação de quadrilha contra os que estão sendo julgados.
--Pai, você não vem tomar café?
--NÃO! Não percebe que estou muito ocupado? Não posso perder... A qualquer momento o homem vai declarar o seu voto. Pare de me chamar!
Minha nossa! Está demorando muito pra ele se pronunciar. Está sendo uma tortura mental. Se pelo menos tivesse o plim-plim da Rede Globo eu poderia ir até o banheiro e soltar o que está me atrapalhando. Mas que coisa! Há quantas horas já estou aqui? Haja saco para ouvir exemplos de julgamentos anteriores... Tem muita gente que não está entendendo nada. Aliás, nem eu quero entender. Ele que se manifeste logo se será sim ou não o seu voto... Estou perdendo a paciência. Está parecendo enrolação.
--Opa, finalmente... É agora... Vai, vai, vai! Fala, fala... Ele falou: Senhor Presidente meu voto é sim para os Embargos Infringentes.
O QUE? MAS O QUE É ISSO? MAS... PQP... Será que ouvi bem?
--Pai, o que aconteceu? Por que você ficou tão bravo?
--Bravo eu? Não filha. É que de repente fiquei meio atordoado. Talvez porque fiquei muito tempo diante da televisão. Se eu soubesse, não ficaria.
Esses tais de Embargos Infringentes são antigos e até já estão ‘barrosos’.
Duvido que algum brasileiro tenha se decepcionado. Nossos heróis (como piou um pássaro falcão que devia estar na gaiola) que são inocentes nem deveriam estar sendo julgados. Com os Embargos agora legalmente aceitos eles serão menos injustiçados. Isso vai desagradar a ‘papuda’ da elite brasileira. Tudo foi invenção dela. Se tivesse mesmo havido saques ilegais do Banco Estatal Valerioduto para os bolsos de deputados o presidente saberia. E ele, coitado, sempre tão ocupado em coibir falcatruas falou que não sabia de nada, nunca viu nada, não percebeu nada. Como sabemos, um presidente que seja mesmo presidente, nunca, jamais ele mente, principalmente se ele for brasileiro e gosta de cerveja e futebol. Entretanto, voltando aos nossos heróis vitoriosos pelos Embargos Infringentes que agora irão vigorar e favorecê-los, alguns deles levantaram o braço para cima com a mão fechada e a agitaram. Parece que é o símbolo da mais pura democracia. Afinal, por falar em heróis, temos que reconhecer que graças a tantos brasileiros honrados e empreendedores do passado, somados com os de agora (principalmente) é que, este nosso Brasil é (até parece)‘mais evoluído e desenvolvido’ que os Estados Unidos, embora, eles tenham a mesma idade. Ainda pensando no embate jurídico, de um lado tivemos os que consideraram procedentes os embargos e de outro lado os que consideraram improcedentes. Considero intrigantes como mentes ilustres, ‘tão sinceras, tão imparciais, tão apartidárias, tão apolíticas’ (e bota ‘tão’ nisso) não se entendam e se desentendam. Parece que as leis são para serem entendidas e não para serem compreendidas (risos). Será que elas na hora de serem colocadas em prática podem ser entendidas e aplicadas de acordo com o estado de espírito de cada um? Será que nas leis existe a possibilidade de propositalmente desentendê-las para se criar polêmica e com isso favorecer a absolvição ou condenação de alguém? Não sei! Mas, na Ação Penal 470 que foi televisada, me pareceu visível em alguns julgadores ter havido interesses protetores para, com antecedência, qualquer pessoa adivinhar que eles iriam mesmo, ser complacentes, ser atenuantes com a condenação dos réus. Até me pareceu que alguns atuaram como se tivessem dó ou amor pelos réus. Bom se eu estive enganado. ‘Juízes são para julgar e não para serem julgados’. Quanto aos Embargos Infringentes, eles são recursos ao que a defesa de réu tem quando não houver unanimidade entre os jurados na votação para uma condenação. Não tenho capacidade para entender mais e melhor, porque, a terminologia jurídica é de difícil compreensão para quem é leigo e até para advogados ainda inexperientes. Contudo, não sei se para pessoas simples e desprovidas de recursos os Embargos Infringentes atuam.
--Parei! Chega de lembrar e me torturar. Chega de pensar naquele dia.
--Pai, você falou comigo? Não entendi.
--Não filha apenas pensei alto. Só falei pra eu mesmo ouvir.