Um amigo do trabalho, pela incompatibilidade de viver com
sua esposa, sempre procurava solução para o seu problema. Ele
já havia freqüentado alguns locais, tentando obter ajuda, porém,
abandonou-os pensando existirem outros mais eficazes.
Numa noite do ano 1982, acompanhei-o numa outra peregrinação e
desta vez fomos até uma igreja messiânica. Lá, também
de ideais e práticas importadas, fomos bem recebidos pelos freqüentadores
mais assíduos cujas amabilidades impressionaram.
Seria para nos aliciar para suas mesmas convicções? Para aquelas
proferidas naquela casa ---ainda não era uma igreja suntuosa--- vinda
de outro país?
Eu e o amigo com problemas fomos convidados a entrar numa sala para participarmos
da prática da “imposição das mãos”.
Era uma novidade para os brasileiros daquela época e muitos aderiram
a ela.
Sentei-me numa cadeira e numa outra defronte, sentou-se uma
moça. Antecedida por algumas palavras de orientação ela
iniciou o seu nobre desempenho.
Calado olhando-a de frente, via a posição da palma de sua mão
que se intercalava com outra direcionada a meu corpo, transferindo-me alguma
vibração ou energia que ela acreditava possuir. Para não
constrangê-la, desviei meu olhar do dela e ele (sem querer) ficou fitando
os seios dela, gostou deles e eu também. Esse desvio de objetivo acontece
a toda hora em todo e qualquer lugar, mas, é tabu comentá-lo.
É uma força inerente a qualquer ser humano normal e ela sempre
se faz notar por quem a sente, mesmo nos lugares considerados sagrados. Disfarçá-la
é o obvio.
Ouvindo este relato, os amantes da hipocrisia ficam “chocados”,
ignorantes que o que é real e orgânico sempre prevalece diante
das probabilidades intelectuais de uma circunstância sagrada ou respeitosa.
Quem sabe disso isso não entra em conflito quando uma reação
interna dos hormônios ou a libido seja imprópria para se fazer
sentir em momentos considerados impróprios.
Voltando à imposição das mãos,
a moça bocejava muito, pensando talvez, que eu estivesse carregado de
energia negativa. Ao mudar de posição e ficar-me às costas,
até senti seu hálito e nele percebi-a como estando com fome. Seu
trajar denotava ser ela, uma pessoa bem simples. Pela imposição
das mãos, que energias melhores do que as minhas ela poderia me transferir?
Fico devendo a resposta.
É preocupante como muitas pessoas pensam ter o poder de modificar situações
quando nem as próprias conseguem modificar. Não é incomum
a força da auto-sugestão produzir modificação temporária
em pessoas e isso as leva acreditar mais em suas convicções e
nelas o “dom de fazer o bem” procura aliciar outras. E assim, muitas
instituições comodamente sobrevivem com propaganda gratuita.
Quanto ao amigo ansioso por encontrar solução para a incompatibilidade
com a esposa, nem daquela vez que hoje foi contada, e nem de nenhuma outra,
encontrou “receita” ou fórmula mágica para criar sua
compatibilidade com a esposa como tanto queria. Juntos até hoje, a incompatibilidade
ainda persiste e assim se aturam com ele viciado ao ceder aos caprichos dela,
senão...