Outro dia estive na cidadezinha onde nasci e donde só tem subida e descida. Numa esquina encontrei-me com um primo e ficamos conversando sobre um assunto dos mais impressionantes e contagiantes deste século... As doenças. Ainda bem que elas existem para que as pessoas quando se encontram tenham com o que conversar. Se elas não existissem quais assuntos importantes teríamos para conversar além da política degradante, do fenomenal futebol, do incrível whatsApp que tanto aproxima as pessoas com suas ladainhas “significantes”, tão amáveis e tão necessárias? Durante a conversa com o primo, do outro lado da rua uma mulher gritou o meu nome e acrescentou “nossa quanto tempo faz que não te vejo”.
Ela atravessou a rua e se aproximou. E eu pensei quem é essa mulher que me conhece e eu não a conheço? Logo a conversa entre nós ficou animada e percebi que ela tinha muita intimidade comigo, pelo modo com que me olhava e me falava como se fôssemos muito amigos. Vi que ela engordou, ficou com o rosto grande e redondo. Depois de mais de cinco minutos de conversa fiz-lhe perguntas para tentar “adivinhar” quem era ela: Você tem ido a bailes? Onde você está morando agora? Eureca! Quando ela disse onde morava me lembrei de quem ela era. De fato fomos amigos. Se eu não a reconheci e ela me reconheceu, então, eu não mudei tanto como ela, apesar da minha idade avançada, dos meus cabelos brancos e dos sulcos do meu rosto (risos). Mas, nada lhe disse sobre o meu Alzheimer temporário.
Esse acontecimento igual a milhares de outros é tudo culpa da inesperada, indesejada e perigosa velhice que ataca sem piedade qualquer um que esteja desarmado e indefeso contra a traição da natureza que sempre quer renovar a população do mundo. A velhice, a mando da natureza nos ataca com armas perigosas como a hipertensão, diabetes, infartos, acidente vascular cerebral, câncer, Mal de Parkinson, Alzheimer, reumatismo, catarata, perda da audição, perda dos cabelos, perda da libido, perda da boa aparência (risos), aumento da barriga e outros males e etc. E tudo só pode ficar para o “Deus nos acuda”, porque, por nós mesmos só podemos ficar a mercê do “destino” implacável (risos). Isso faz pensar. Por que queremos ser tanta coisa na vida se depois tudo fica a se perder? Por que tanta ansiedade, tanta preocupação, tanta ambição, tanta vaidade, tanta ilusão, tudo para preencher o ciclo, o período curto de como é a vida?
se chega à velhice parece que tudo foi tolice (risos). Mas, ficar velho é ficar antevendo a sorte de logo ser premiado com a morte. Ela quando vem desfaz toda aquela debilidade física ou intelectual que qualquer pessoa velha possa ter: Aquele rosto desfigurado com o corpo arcado, aquela indiferença que se é para os mais jovens, aquela incompatibilidade com a imoralidade atual, aquela dependência da medicina e dos medicamentos para se manter saudável, a impaciência contra o trivial e o banal das conversas insignificantes do dia a dia, o conviver com o receio da violência que impera nestes dias e etc., tudo isso e mais, a morte leva, mas, a vida tudo conserva (risos). Queiramos ou não, a velhice é uma chateação. Toda a experiência da vida, na velhice quase não serve pra mais nada (risos). No link de uma música aqui abaixo está à realidade de como ela é quando se apresenta e quando se olha no espelho.
https://www.youtube.com/watch?v=14G7ap6CSOo