23/11/05Nectar da Vida Poucos quilômetros separam aqueles dois descompromissados entre si e a
sociedade.
Ainda encontrando-se furtivamente, naquela noite ela estava tão linda
e elegante ao recebê-lo que o rapaz sentiu-se admirado pelo encantamento,
ficando envaidecido pela consideração. Inexiste entre os dois,
qualquer cobrança ou projeções futuras.
Após as saudações, de mãos dadas seguiram até
a sala con fortável da casa. O som do rádio sintonizado em F.M.
parecia exclusivo aos dois.
Emudecidos quando ausentes as percepções do tempo e quando esmaecidas
suas inibições, das profundezas do âmago de ambos, como
numa avalanche, eclodiu toda força de tanto carinho acumulado.
A energia apoderou-se dos movimentos corporais, tornando as mãos, insuficientes
para o seu fluir.
As carícias cederam para uma pausa para o rapaz assistir a cena de uma
mulher preparando café.
Entorpecido por aqueles momentos, o rapaz dirigiu-se ao terraço, donde
vislumbrou parte da cidadezinha adormecida.
Pensativo em comparações, parecia perceber as vibrações
preocupantes dos seus habitantes. Para ele, as pessoas transformaram-se em preocupações
viventes que amam o mundo e ele ama a vida.
Na penumbra do terraço, surgiram-lhe também, lembranças
muito tristes.
Silente, envolvendo-o em seus braços pelo redor da cintura dele e com
o rosto apoiado em suas costas, arrebatando-lhe das tristezas e assim trazendo-o
de volta às realidades do momento, ela sussurrou-lhe que o café
estava pronto.
Esse jesto inesperado simboliza a admiração que uma mulher nutre
pelo seu parceiro.
Afrouxando-lhe o abraço e mantendo-se dentro dele, o rapaz girou o corpo
até postar-se de frente à ela.
Contemplativo naquele rosto indígina que tanto lhe cativava, inebriado
com a aproximação castanha daqueles olhos, o rapaz fechou os dele
ao sentir a umidade dos lábios dela.
Resultante de vivências anteriores, a experiência ensinou o rapaz
à explorar apenas, o que de melhor possuem as pessoas.
Seguindo seu curso, a madrugada assistiu o exaurir das energias e testemunhou
a incapacidade dos corpos ao atenderem os sedentes apelos dos espíritos,
persistentes ainda por mesclarem suas vibrações.
Abraçados e embalados pelos sons de suas respirações, a
escuridão restante da madrugada, absorveu-os pelo sono.
Ao amanhecer, implacável com suas exigências cotidianas, o barulho
do mundo separou-os fisicamente, até o reencontrarem-se.
Altino Olímpio