Ela tem estado comigo na cama todas as noites. Raras vezes conversei sobre ela com outras pessoas. Quando algo se torna comum perde-se o interesse de comentar. Mas, quantas noites eu passei com ela e até cheguei a pensar que nunca mais poderia ou conseguiria viver sem ela. Ela também me amava e muitas vezes me acordava durante a noite. Eu nem podia me mexer para me acomodar melhor e logo eu sentia a sua intimidade nas minhas pernas. Ela era mesmo uma sensação. E, fazia com que eu me debatesse na cama e esticasse bem as pernas para que ela se acalmasse e me deixasse dormir. Foi-me companheira constante e se chamava Câimbra.
Mas, como tudo que começa sempre termina, ela me abandonou. Isso teve início quando me esqueci de tomar o remédio “Estatina” contra o excesso de colesterol que é uma gordura que circula pelo sangue. Ah é assim é? Então interrompi esse tratamento medicinal contrariando os médicos que me receitaram tal medicamento. Agora até sinto saudades das câimbras. Mas, não eram só elas que me importunavam. Eu tinha dificuldade para me levantar da cama porque doía a minha perna esquerda. Quando me sentava no banco do metrô, para me levantar quando ele chegava à estação donde eu teria que desembarcar, minha perna doía. Por isso eu já não mais fazia questão de me sentar, preferindo ficar de pé.
A dor que eu “sentia” na perna fez com que eu culpasse o nervo ciático pelo aparecimento dela. É a mania que a gente tem de culpar quem não merece ser culpado. Coitado do nervo ciático, tão inocente e “levou” a culpa pelas minhas dores (risos) quando a culpada era a estatina. Lembro-me, um dos médicos cardiologistas me disse que eu teria que tomar a estatina até morrer (risos). Ele é parente, amigo e protetor das câimbras e da dor na perna e eu não sabia disso (risos). Quanto ao colesterol no sangue ele continua abaixo do limite estipulado pela medicina.
Altino Olympio