Se alguém se pergunta “quem sou eu”, seu
pensamento faz um rastreamento rápido misturado do passado com o presente.
Momentaneamente a pessoa se vê sendo como imagina que é. Imagens
de seus familiares perpassam pela mente se interpondo com o grau de relação
existente entre ambos. Tendo ou não contato amistoso com os parentes,
algo tão sutil funciona como um liame a lembrar que eles têm um
grau de importância diferente das demais pessoas do seu relacionamento
comum. Os amigos são aqueles das amizades mais íntimas e são
mais conhecedores do seu viver como, seus costumes, interesses, problemas, preocupações,
trabalho, religião, situação financeira, desejos, gostos,
entretenimento e etc. Os considerados apenas como sendo conhecidos e de relacionamento
esporádico, lhes são indiferentes e pouco ocupam momentos de sua
mente.
É comum quando uma pessoa pensa em como ela é,
atrair para seu pensamento as pessoas de seu relacionamento, pensando em como
elas pensam nela como ela é. Essa preocupação enraizada
no viver é a escravidão de muitos. Tudo do que fazem ou querem
fazer, esperam notabilidade e mais avaliações alheias do que as
próprias. Quando param para refletir em como são, em pensamento
são dependentes de se transferirem nos outros e neles procuram se ver
como são, visto por eles, os outros. Na introspecção própria
destituída de outros, uma pessoa se vê inserida no entremeio de
seu mundo particular, familiar e material. Existe uma forte ligação
com o que possui, ou melhor, quando ela se pensa em quem ou como é, ela
se vê como sendo também o que possui. Seu “eu sou”
pode ser confundido com a profissão e com o seu grau de instrução,
ainda mais se ele lhe outorga algum título.
Porém, esse “eu sou” caracterizado no que
se possui, na profissão e no grau de instrução formal,
mais ele é lembrado na presença e comparação com
outros. Quando na solidão e na ausência do “eu sou”
que é calcado nas exterioridades das posses, profissão e instrução,
uma pessoa pode se sentir sendo “um nada” ou “um vazio”
sem ele. Só consigo mesmo e não precisando manter a aparência
de como sua personalidade é considerada em público, alguém
pode se surpreender por não ter uma imagem de si, diferente daquela que
demonstra para todos. “O feitiço vira contra o feiticeiro”
quando uma pessoa também se vê igual como as outras pessoas a vêem,
conforme ela mesma as influenciou com o seu modo de ser.
Nosso modo de ser, como observado e conhecido pelos outros,
faz parte da nossa personalidade com a qual somos conhecidos. Ela é o
nosso lado exterior para ser atuante na existência com a sociedade. Muitas
pessoas, mesmo quando ausentes de seus compromissos e distantes do convívio
humano, profissional ou comercial, persistem no “culto” de suas
personalidades, quando, deveriam esquecê-las. Seus momentos mais poderiam
ser dedicados num autoconhecer isento da poderosa atração que
o mundo material exerce sobre suas vidas. O despertar da curiosidade pelo “quem
sou eu” facilitaria primeiro, saber o “quem não sou eu”,
o nada tendo a ver com os títulos ou rótulos com os quais se é
conhecido e também como muitos com eles pensam que se conhecem.