O ser humano tanto habituado a perder-se em seus pensamentos,
distraído vive neles entendendo isso ser normal. Pouco vive onde está
consciente de onde está, pois, mais seus pensamentos o deslocam para
onde não está. Essa dupla existência (o corpo num lugar
e o pensamento em outro) tão rotineira tornou-se imperceptível
para que ele possa regular seu pensamento, atraí-lo para a consciência
do momento onde o pensamento e o momento estejam afins, isto é, relativos
entre si. Como sempre estamos sujeitos a nossa memória, ela nos separa
dos “nossos agoras” levando nosso pensamento para agoras já
existidos. É um devaneio nem sempre apropriado principalmente quando
nosso pensamento deveria estar no agora donde de fato está a nossa existência
física.
O controle do pensamento não é nada fácil.
Às vezes já ao acordarmos, uma lembrança nos invade com
quase a mesma intensidade de contrariedade causada de quando tomamos conhecimento
de um fato indesejável e a lembrança dele nos encontrou desprevenido
para refutá-lo do pensamento. Dependendo de quem viveu um fato indesejável,
ele “gruda” mais no pensamento do que os seus fatos agradáveis,
que, mais facilmente são esquecidos. Alguns, sem saber, têm alguma
paixão por sofrimento e deixam seus fatos indesejáveis dominarem
seus pensamentos. Nós a todo instante estamos convivendo com o passado
e a memória para ela ser, só pode ser o passado. Que adianta rememorar
fatos irreversíveis para somente implicarem em desajustes de nossos subseqüentes
momentos, quando os momentos deveriam ser para o pensamento viver neles com
o que eles nos trazem e não para se deter no “estou longe daqui”
num fato lamentável que me ocorreu?
Mesmo um fato reversível, sempre adianta refletir sobre
ele quando ainda não é o seu momento? Por que deixá-lo
se intrometer em momentos alheios a ele? A nossa separação dos
momentos presentes para os do passado não é um “passar o
tempo” despercebido dele e de sua paz pela ausência de fatos indesejáveis,
ele sendo a imperturbabilidade requerida para uma vida mais saudável
e desejável? O se estar física e mentalmente onde de fato se está,
obediente para a atualidade do momento em que se vive, tal comportamento consciente
tornado habitual, é como um escudo protetor contra as lembranças
invasoras do nosso pensamento, aquelas inoportunas e inconvenientes procedentes
da memória, que, não compartilha com a pertinência ou exigência
dos momentos para se manifestar e se impor como maior significado para desviar
nossa atenção para as lembranças que ela, ---a memória---
nos trouxe. Mesmo quando um “viver deslocado” possa ser prejudicial,
ele é acolhido por muitos daqueles que nunca estão contentes onde
e como estão e com o pensamento procuram por derivações
ausentes de seus momentos para preenchê-los com a memória de fatos
alheios a eles. São fugas de quando instantes subseqüentes não
trazem sensações e muitos sentem tédio, um mal-estar pela
falta delas.