A conveniência é útil no relacionamento
humano do dia-a-dia para os interesses se produzirem e se reproduzirem na sociedade.
Sem conveniências entre seres humanos, a sociedade não consegue
sobreviver. Se todos fossem “cada um por si mesmo” sem a necessidade
de precisar de outros, sociedade não existiria. O se ser preciso para
outros e de outros precisar, essa mútua contribuição movimenta
a humanidade para ser como ela é, um resultado de conveniências
para a sobrevivência humana.
Mas, agora, nosso assunto é sobre a conveniência mais isolada,
particularizada, aquela sem compromisso com os resultados práticos e
necessários do relacionamento humano.
Se conveniências não se realizam, “ficamos
de mal” com pessoas que escolhemos por causa delas. Muitas amizades deixam
de ser por causa disso. Muitos só são “amigos” porque
somos convenientes para eles até quando nos tornamos inconvenientes por
não termos seus mesmos gostos e o mesmo jeito de se ser. E sermos indiferentes
aos seus gostos e seus jeito de ser, essa falta de cumplicidade os afasta. Esses
amigos são aqueles sempre atentos aos nossos gostos e ao nosso jeito
de ser e querem reciprocidade. Não as tendo, sentem-se magoados e é
muito comum percebê-los com suas cobranças. Quase sempre, amigos
existem para quererem ouvir nossas satisfações sobre nossas vidas
e se não somos de dar satisfações, não somos amigos.
Muitos, existindo em suas carências de precisarem ser
ouvidos sobre tudo dos cotidianos de suas vidas, sem se perceberem serem egocêntricos
naquele “eu sou importante, isso ou aquilo é importante, eu escutei
é importante, eu vi é importante, eu fiz, eu falei, aconteceu
isto e foi importante, então é importante falar para um amigo,
pois, para ele me ouvir é importante, meu assunto é tão
importante e também tem de ser importante para o amigo, contar tudo para
ele é importante”.
Nossa, que desgraça! Essa de ter amigo para a conveniência de despejar
tudo de fútil transformado em importante somente naquele muito carente,
doente por falar e apenas falar, torna a conveniência numa inconveniência
odiada.
Nas amizades mais estáveis, a conveniência é
ótima quando ela é ausente. Nós também, quando somos
sinceros e percebemos nossa conveniência por algumas amizades e se só
por ela tais amizades existem, delas nos afastamos se formos realmente honestos.
Muitas amizades são mútuas conveniências e duvida-se se
alguém com tantas, consiga manter sua integridade. Os “amigos”
sempre se estão interferindo, uns arrastando os outros para outros lugares
e se deixam arrastar, porque, a conveniência entre eles criou a “consideração”,
essa outra atitude criadora de suas escravidões.
As pessoas desconhecidas sendo como inexistentes para nós,
quando num acaso conversamos com uma delas e no assunto entre ambos não
existe a preocupação por um querer saber como é a existência
do outro e nem mesmo seu nome, aquele ocasional encontro amistoso tem uma leveza
contrária ao peso da “responsabilidade” sentida quando da
presença de amigos. Com estranhos somos mais “soltos” e com
amigos somos presos na nossa personalidade como os amigos nos conhecem. Com
estranhos não existe conveniência e com amigos, mesmo só
por sermos amigos, existe a conveniência de sermos amigos. Se tivermos
essa carência, pagamos algum preço.