Doença inflamatória intestinal: as dificuldades de tratamento e os avanços da medicina
Legenda da foto, Nos últimos 30 anos, houve um aumento de quase 50% nos casos desta condição
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- Author, Falk Hildebrand y otros
- Role, The Conversation*
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17 janeiro 2024
A doença inflamatória intestinal (DII) é uma condição crônica que altera a vida das pessoas que sofrem dela e cuja incidência está aumentando drasticamente em todo o mundo.
É extremamente difícil tratar a doença e muitas pessoas acham que os tratamentos disponíveis que temos simplesmente não funcionam nos seus casos.
Nos últimos 30 anos, houve um aumento de quase 50% no número de casos, afetando agora cerca de 5 milhões de pessoas.
A doença não deve ser confundida com a síndrome do intestino irritável (SII), que é uma condição que afeta o sistema digestivo. A DII tem outras consequências.
O termo é usado para descrever duas doenças graves chamadas doença de Crohn e colite ulcerosa.
Mais mulheres são diagnosticadas com doença de Crohn, enquanto mais homens são afetados pela colite ulcerosa.
Pessoas com DII podem apresentar uma variedade de sintomas, desde diarreia e sangue nas fezes até perda de peso e dores de estômago. Isso pode não parecer pior do que uma intoxicação alimentar leve. No entanto, esta não é uma dor de barriga normal.
As experiências são muitas vezes extremas. Pessoas com DII podem sofrer dores terríveis e, em alguns casos, necessitar de cirurgia para remover partes do intestino.
Isso é feito redirecionando o intestino para um orifício no abdômen, onde as fezes são coletadas em uma bolsa de colostomia.
No entanto, ainda não compreendemos completamente a causa da DII.
O impacto da inflamação
O principal sintoma da DII é a inflamação excessiva e descontrolada, um sinal que normalmente aparece quando o corpo combate uma infecção.
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Legenda da foto, Pessoas com DII podem sofrer de dores insuportáveis
Embora a inflamação seja um aspecto importante do nosso sistema imunológico, na DII ela ocorre quando o corpo não está sob ataque. Como não sabemos o que causa essa reação exagerada, os tratamentos limitam-se a controlar o sistema imunológico descontrolado.
A inflamação é controlada pela sinalização celular. Nossas células detectam bactérias usando receptores que se ligam a partes dessas bactérias. Isto ativa o receptor, fazendo com que ele envie um sinal às proteínas, e cada proteína envia mais sinais, criando uma cascata de sinalização. Isto é o que diz ao corpo que ele está sob ataque.
Muitos tratamentos seguem a estratégia de interceptar sinais e impedir o início da cascata de sinais. No entanto, para muitas pessoas, esses tratamentos não são eficazes.
Os cientistas estão tentando atingir uma rede proteica diferente, chamada NOD2, que muitas vezes está fora de controle em pessoas com DII, mas não é alvo dos tratamentos atuais.
Uma proteína, chamada RIPK2, parece um alvo promissor, uma vez que só é encontrada nesta rede.
Pesquisadores do Laboratório Europeu de Biologia Molecular estão investigando a sua estrutura para ajudar os cientistas a conceber um novo medicamento que bloqueie os sinais desta proteína.
A importância do microbioma
Outra inspiração para novos tratamentos vem das bactérias que ficam no nosso intestino. Esta comunidade de bactérias, chamada microbioma intestinal, tem sido associada a todos os tipos de problemas de saúde, desde asma até obesidade.
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Legenda da foto, Enquanto algumas bactérias preferem um tipo de alimento, outras consomem outros
As bactérias intestinais trabalham em estreita colaboração com o nosso corpo e desempenham um papel vital na digestão dos alimentos e no controle do nosso sistema imunológico.
Em uma pessoa saudável, existe um delicado equilíbrio entre as bactérias intestinais e o sistema imunológico. A perturbação deste equilíbrio pode levar a doenças, que vão desde um pequeno desconforto até condições mais graves a longo prazo.
Os pesquisadores estão tentando entender como nosso corpo interage com as bactérias intestinais e o que muda quando as pessoas desenvolvem DII.
O microbioma intestinal é um ecossistema. Assim como em uma floresta existem animais que comem coisas diferentes, os micróbios podem formar uma teia alimentar. Algumas bactérias consomem um tipo de alimento, enquanto outras se alimentam de outros.
Alguns dependem dos resíduos liberados por outras bactérias depois de essas terem comido. Acredita-se agora que a alteração do microbioma intestinal é uma marca registrada da DII e contribui para o seu desenvolvimento e progressão.
É uma situação do ovo e da galinha. Existe alguma mudança na rede bacteriana e alimentar que altera nosso corpo? Ou será que alguma outra coisa no corpo, como o nosso sistema imunológico, altera a cadeia alimentar, limitando subsequentemente as bactérias que podem crescer?
Os cientistas não têm certeza da resposta para essas perguntas.
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Legenda da foto, Algumas pessoas necessitam de cirurgia e devem usar uma bolsa de colostomia para coletar fezes
Em vez de tentar descobrir o que acontece primeiro, uma equipe do Instituto Hudson de Pesquisa Médica, na Austrália, está se concentrando em investigar quais interações na cadeia alimentar são mais afetadas na DII.
Isto poderia ajudar os cientistas a priorizar certas bactérias intestinais, ou a sua fonte de alimento, para restaurar o equilíbrio do microbioma e melhorar os sintomas dos pacientes.
A esperança é que este direcionamento especializado ao microbioma levará a tratamentos mais eficazes e duradouros.
Embora ainda tenhamos um longo caminho a percorrer antes que estas hipóteses de tratamento se tornem realidade, esse é um passo na direção certa.
Encontrar uma nova via de sinalização poderia ajudar a controlar a inflamação em mais pacientes. E estudar o microbioma pode revelar como podemos reverter as alterações associadas à DII.
Como características principais da DII, esses avanços poderiam permitir aos médicos interromper a doença nos estágios iniciais e reduzir as complicações.
* Falk Hildebran é pesquisador de Bioinformática, Quadram Institute, Reino Unido. Katarzyna Sidorczuk é pesquisadora em Metagenômica, Instituto Quadram. Wing Koon, é estudante de doutorado em Bioinformática, Instituto Quadram.
*Este artigo foi publicado no The Conversation e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons. Clique aqui se quiser ler a versão original (em inglês).