A história se repete
Até agora o número de mortes por Covid-19 no Brasil chega a mais de 365 mil, ultrapassando a quantidade de óbitos por Gripe Espanhola quando a doença atingiu o país em 1918 (a população nacional da época era de aproximadamente 30 milhões de pessoas).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que a Grande Gripe tenha sido a pandemia mais mortal da história até agora: foram 50 milhões de óbitos entre 1918 e 1920.
Os historiadores acreditam que a Grande Gripe chegou ao Brasil em setembro de 1918, quando passageiros do navio britânico Demerara, vindo de Lisboa, em Portugal, desembarcaram infectados em Recife, Salvador e Rio de Janeiro.
Acredita-se que no mesmo mês outros marinheiros que prestaram serviço militar em Dakar e estavam doentes tenham aportado também na capital pernambucana. Pouco mais de duas semanas depois, outras cidades do Nordeste e de São Paulo reportaram casos da doença.
Os medicamentos infalíveis da época, não diferem muito dos de hoje
As receitas de "tratamentos infalíveis" se espalharam por aí durante a Gripe Espanhola. Nos jornais, as páginas eram tomadas por cartas de leitores que indicavam pitadas de tabaco, balas de ervas e tônicos como remédios para a doença. Além disso, outra recomendação era queimar alfazema ou incenso para "limpar o ar" — tudo sem comprovação científica.
A origem da caipirinha
Em São Paulo, particularmente, espalhou-se outro tratamento: uma mistura de cachaça, mel e limão que prometia curar a infecção. A bebida soa familiar? Segundo os especialistas, foi nesta época que surgiu a caipirinha, paixão nacional.
Cloroquina na forma natural foi utilizada
Um tratamento que se tornou particularmente popular quando a Gripe Espanhola atingiu o Brasil foi a ingestão de sal de quinino, um remédio então usado no tratamento da malária. Mesmo sem comprovação científica de sua eficácia, a substância sumiu das prateleiras e, em certo ponto, passou a ser distribuída para a população.
A história se repete
De acordo com os historiadores, as autoridades brasileiras da época demoraram a agir: medidas de prevenção e de distanciamento social só foram tomadas quando a pandemia já acometera grande parte do país. Dados da Fiocruz indicam que entre outubro e dezembro de 1918, período oficialmente reconhecido como pandêmico, 65% da população adoeceu. Só no Rio de Janeiro foram registrados mais de 14 mil óbitos pela doença, enquanto em São Paulo ao menos 2 mil morreram.
Carlos Chagas, biólogo e satinarista que descreveu a Doença de Chagas, foi uma figura importante durante a pandemia de Gripe Espanhola. O então presidente Venceslau Brás, que governou entre 1914 e 1918, convidou o especialista para liderar a campanha de combate à doença. Além de apoiar pesquisas científicas, Chagas implementou cinco hospitais emergenciais e 27 postos de atendimento à população em diferentes pontos do Rio de Janeiro.
Também a quarentena foi aplicada durante a pandemia da Grande Gripe no Brasil. No pico de contágio, escolas, lojas e postos de trabalho foram fechados para conter a disseminação da doença. Já os campeonatos esportivos foram cancelados e adiados, tal como as apresentações artísticas.
O medo
Segundo relatos de cidadãos da época, o medo de sair nas ruas e ser contaminado era tão grande que os corpos dos mortos permaneciam por dias ou até semanas nas ruas. Grande parte das vítimas da Gripe Espanhola foram enterradas como indigentes e em valas coletivas.