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Vacina contra vírus que causa câncer é eficaz em testes

Laboratório pretende vender o produto, que evita a infecção pelo HPV, já no segundo semestre de 2006.

Um grupo de pesquisadores, liderado por uma brasileira, acaba de divulgar resultados de testes de uma vacina contra o HPV (papilomavírus humano), principal causador do câncer de colo de útero – o segundo mais mortal para mulheres. Os dados são positivos a ponto de seu patrocinador, um laboratório multinacional, anunciar que se prepara para pedir o registro assim que todos os testes terminarem. O lançamento é previsto para o segundo semestre de 2006. A infecção pelo HPV é uma das doenças sexualmente transmitidas mais difundidas no planeta: são 510 mil novos casos registrados por ano. O produto foi desenvolvido no instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer, em São Paulo, pela equipe liderada pela pesquisadora Luisa Lima Villa. O resultado, publicado ontem à noite na página online da revista The Lancet Oncology (http://oncology.thelancet.com), demonstra uma eficácia média de 90% contra reinfecções e 100% contra verrugas genitais provocadas pelos quatro tipos mais comuns de HPV (6, 11, 16 e 18) em comparação a um placebo, substância inócua dada à metade das voluntárias, recrutadas no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa. A mulher é exposta inúmeras vezes ao vírus durante sua vida sexual. Na maioria delas, o sistema imunológico dá cabo dele. No entanto, a reinfecção pela mesma cepa pode levar, em longo prazo, ao surgimento de um tumor no colo do útero: o risco cresce 50 vezes, diz Luisa. “A hipótese por trás da criação de uma vacina contra os quatro tipos mais comuns de HPV é justamente proteger contra as reinfecções”. O produto é profilático, ou seja, tem a intenção de evitar que uma doença se desenvolva. Ele estimula o sistema de defesa do corpo a conhecer o vírus, ou pelo menos cópias indefesas dele, e atacá-lo quando houver o contato real. Uma opção é aplicar a vacina na pré-adolescência, antes que haja o primeiro contato com o HPV.

Próximo Passo

A terceira e última fase de testes corre desde 2002 com mais de 13 mil mulheres no mundo. Segundo a pesquisadora, o resultado será publicado no próximo semestre com dados bastante parecidos aos obtidos na fase dois. O HPV é responsável por 90% dos casos de lesões genitais e 70% dos casos de câncer do colo do útero. Esse tipo de câncer é o segundo que mais mata mulheres no mundo (o primeiro é o de mama): são 288 mil mortes por ano, cerca de 8 mil no Brasil. Quase 80% dos casos são diagnosticados em países pobres. “Na África, há mulheres soropositivas que morrem por infecção do HPV”, diz Luisa. A Merck, patrocinadora do estudo, pretende enviar o material para avaliação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no Brasil, e ao FDA (agência reguladora de remédios e alimentos), nos EUA, assim que a fase três terminar. “Após a aprovação, podemos colocar a vacina no mercado em dois meses”, diz o porta-voz da Merck no Brasil, João Sanches. A rapidez, informa, não tem ligação com o fato de a concorrente GlaxoSmithKline ter uma vacina similar em curso, cujos resultados podem ser divulgados nos próximos meses. O laboratório ainda não divulga quanto custará a vacina. Para Luisa, o custo pode ser elevado no começo, mas a tendência é cair com o tempo.

O Estado de São Paulo

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