Exame evita biópsia de próstata desnecessária
MARIANA VERSOLATO
EDITORA-ASSISTENTE DE "CIÊNCIA+SAÚDE" Folhaonline
Um novo aparelho que é posicionado entre as pernas do paciente pode evitar biópsias desnecessárias na próstata, segundo um estudo do A.C. Camargo Cancer Center.
O hospital em São Paulo é o primeiro do país a usar esse exame na prática clínica.
O teste com o equipamento pode ser feito por homens com suspeita de câncer de próstata que já se submeteram aos exames de toque e de sangue (PSA) e têm indicação para fazer uma biópsia.
O objetivo é definir quem realmente deve ser submetido à biópsia, um procedimento invasivo que pode causar ansiedade e efeitos como dores e sangramento na urina e na ejaculação.
Na biópsia, uma agulha inserida no reto colhe fragmentos da próstata do paciente. A anestesia pode ser local (com sedação) ou geral.
Mas apenas de 30% a 40% das biópsias são positivas para câncer --ou seja, a maioria dos homens com suspeita da doença passa pelo procedimento invasivo desnecessariamente porque o exame de toque e o PSA dão margem para incertezas.
Nos Estados Unidos, estudos mostram que há cerca de 750 mil biópsias de próstata desnecessárias por ano.
O A.C. Camargo avaliou o equipamento em 150 homens durante 18 meses e comparou os resultados do novo teste com os da biópsia.
Resultado: o exame não invasivo teve acurácia de 90% em prever quem não precisaria ter passado pelas agulhas.
Esses dados serão apresentados no Congresso Brasileiro de Urologia, que acontece neste mês em Natal.
COMPLEMENTAR
Gustavo Cardoso Guimarães, cirurgião oncologista e diretor do Núcleo de Urologia do A.C. Camargo, lembra que o novo equipamento não substitui a avaliação clínica e o exame de toque retal nem faz diagnóstico de câncer, mas funciona como um instrumento complementar na investigação da doença.
"O exame de toque ainda é mais barato, simples e indispensável para detectar outras anomalias da próstata."
O equipamento emite ondas eletromagnéticas que indicam uma alteração na proximidade de um tumor.
A engenhoca foi descoberta por acaso pelo italiano Clarbruno Vedruccio, que desenvolvia um detector de minas terrestres na década de 90. Como ele tinha gastrite, percebeu uma queda no sinal quando o aparelho se aproximava de tecidos doentes.
Segundo Guimarães, o exame também pode ser indicado para quem teve câncer anal e não pode fazer exame de toque retal.
Para Lucas Nogueira, diretor do Departamento de Uro-oncologia da Sociedade Brasileira de Urologia, a tecnologia é promissora, mas mais estudos precisam demonstrar sua eficácia.
"Ainda faltam evidências de que esse teste seja superior aos já existentes", diz. Há outra ressalva: o aparelho custa R$ 450 mil.
Hoje, uma alternativa para filtrar melhor quem deve fazer uma biópsia é a ressonância magnética, mas nem sempre a visualização da próstata é satisfatória.
Há também o PCA3, um exame de urina feito após massagem na próstata --ainda mais incômodo que o exame de toque.