Pesquisadores da Nasa e do Instituto Nacional de Olhos dos Estados Unidos desenvolveram um aparelho capaz de diagnosticar casos de pré-catarata, antes que o problema se desenvolva. A catarata é a primeira causa de cegueira no mundo e atualmente não existem exames clínicos que façam o diagnóstico precocemente.
Trata-se de um equipamento não-invasivo que avalia com laser a concentração da proteína alfacristalina no tecido do cristalino (lente dos olhos que fica opaca com a catarata). Essa proteína está diminuída em pacientes com catarata.
O cristalino fica entre a córnea e a retina e é composto por várias proteínas. Os pesquisadores desenvolveram uma fonte luminosa capaz de quantificar o brilho de cada uma. Para isso, avaliaram os olhos de 380 pacientes entre 7 e 86 anos e constataram que, quanto mais opaca a visão, menor a quantidade da proteína alfacristalina.
"Cada proteína tem um brilho diferente. Eles [pesquisadores] conseguiram medir a concentração da alfacristalina no tecido pela intensidade do brilho. É um avanço muito importante porque hoje, clinicamente, você não consegue fazer esse tipo de diagnóstico [detectar a pré-catarata antes que o cristalino fique opaco]", afirmou o oftalmologista Newton Kara José Júnior, chefe do grupo de catarata do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Segundo os pesquisadores, inicialmente, a técnica vai ajudar os cientistas a observar as alterações visuais decorrentes de envelhecimento, tabagismo e diabetes. Além disso, eles continuarão utilizando o dispositivo durante três anos para analisar o impacto das viagens espaciais sobre o sistema visual (para saber se a exposição à radiação espacial também pode causar catarata). A tecnologia poderá, ainda, ajudar a compreender o mecanismo de formação da catarata.
Para o oftalmologista Rubens Belfort Júnior, professor e presidente do Instituto da Visão da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o aparelho pode ser o primeiro passo para a busca de medicamentos para prevenir a catarata.
"Esse aparelho vai nos ajudar a entender o mecanismo da formação da catarata e poderá servir de base para o desenvolvimento de medicamentos que evitem a doença", avaliou Belfort, que acredita que o aparelho deve ser colocado em uso nos principais centros oftalmológicos do mundo, incluindo os brasileiros, em dois anos.
Uso limitado
Atualmente, não existe nenhum medicamento que consiga parar o desenvolvimento da catarata -o tratamento é necessariamente cirúrgico.
Para os pesquisadores que desenvolveram o novo aparelho, a vantagem de fazer um diagnóstico da queda da proteína antes de a catarata aparecer é estimular as pessoas a reduzirem o risco de desenvolver a doença mudando hábitos de vida, como diminuir a exposição ao sol, parar de fumar e controlar os índices de diabetes.
Kara José Júnior acredita que o uso do aparelho é limitado, pelo menos por enquanto, mas diz que ele pode abrir caminhos para algo mais vantajoso. "Como agora a gente conseguirá quantificar essa proteína, poderemos pensar em criar um colírio para aumentar a sua concentração, por exemplo."
Dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia apontam que são diagnosticados cerca de 120 mil novos casos por ano de catarata. Segundo o Ministério da Saúde, em 2008 foram realizadas 70.088 cirurgias pelo SUS (Sistema Único de Saúde).