por
Ana Luiza Barbosa de Oliveira
O
adoçante conhecido pelo nome comercial de Aspartame, um dos mais vendidos
e testados do mercado, é mais uma panacéia do mal: você
está tentando perder peso, tomando café com aquele gosto horrível
de adoçante e ainda corre risco de adquirir doenças como esclerose
múltipla, lupus, também conhecido como lupus erimatoso sistêmico
(LES), e fibromialgia. Fibromialgia é uma condição dolorosa
generalizada e crônica, englobando uma série de manifestações
clínicas como dor, fadiga, indisposição e distúrbios
do sono. O LES é uma doença crônica de causa desconhecida,
na qual o doente desenvolve anticorpos que reagem contra as suas células
normais, podendo conseqüentemente afetar a pele, as articulações,
rins e outros órgãos. E pior, como o café está quente
o aspartame ainda se decompõe em substâncias extremamente perigosas
como metanol e dicetopiperazina (DKP). O metanol proveniente do consumo generalizado
de aspartame seria responsável por milhares de casos de cegueira aparentemente
inexplicáveis e a DKP, causadora do grande aumento de casos de câncer
nos últimos anos.
As
versões do e-mail de alerta e websites sensacionalistas variam bastante,
porém a versão mais sofisticada apresenta um artigo de Nanci Markler
aparentemente baseado em um discurso seu na Conferência Mundial do Meio
Ambiente. Nenhuma credencial da autora é apresentada e nenhum trabalho
seu na área de medicina é encontrado no MEDLINE, banco de dados
de artigos da área.
Nesta
mesma base de dados não existe nenhum trabalho ligando o consumo de aspartame
a casos de esclerose múltipla, lupus ou fibromialgia.
Segundo
um comunicado da Fundação de Esclerose Múltipla não
existe evidência de que o aspartame cause, induza, imite os sintomas ou
piore as condições de pacientes com esclerose múltipla.
Assim como não é perigoso para diabéticos.
Por
outro lado, vários pequenos estudos mostraram que pode existir um subconjunto
de pacientes sofrendo de enxaqueca que têm suas condições
pioradas com o uso de aspartame. E um estudo não repetido mostrou que
pacientes com depressão podem piorar seu quadro por causa do aspartame.
Portanto,
a Fundação de Esclerose Múltipla não condena o uso
do aspartame, mas recomenda que pacientes sob tratamento para depressão
informem seus médicos sobre seu uso.
O
FDA (Food and Drug Administration), a agência responsável pela
aprovação de alimentos e medicamentos comercializados nos EUA,
reitera sua posição de que o aspartame é seguro como aditivo
alimentar, conforme revisão de estudos feitos desde a metade da década
de 70. O FDA revisa continuamente a literatura científica a fim de que
caso efeitos desconhecidos dos produtos e substâncias aprovadas sejam
descobertos, este possa agir de forma a garantir a saúde pública.
Vários estudos repetidos por diferentes autores não mostraram
qualquer efeito adverso do aspartame com relação a vários
tipos de doenças e condições (1, 2, 3).
Agora
vamos à parte do metanol. O aspartame é composto por dois aminoácidos,
a fenilalanina e o ácido aspártico. É verdade que um dos
produtos de degradação do aspartame é o metanol. O envenenamento
por metanol pode, entre outros distúrbios, levar à cegueira. Na
realidade, o que causa a cegueira é um produto da degradação
do metanol, o ácido fórmico. Mas a quantidade de metanol proveniente
do consumo de aspartame é ínfima e similar àquela produzida
pelo consumo de frutas e vegetais como laranjas e tomates. Portanto, não
é suficiente para aumentar a concentração de ácido
fórmico no organismo até níveis perigosos. (4)
Em
cada lata de refrigerante diet existem cerca de 200mg de aspartame. Estudos
mostram que o consumo de 2.000mg não causa alteração no
nível de metanol no sangue de adultos, assim como a ingestão de
600mg por hora durante 8 horas (o equivalente a 24 latas de refrigerante diet)
não foi suficiente para aumentar significativamente o nível de
metanol no sangue de adultos saudáveis. (5, 6) Em outro estudo a ingestão
de 14.000mg de aspartame causou um aumento nos níveis de metanol, porém
o nível de ácido fórmico, responsável pelos efeitos
adversos, permaneceu inalterado. Trabalhos com doses equivalentes foram realizados
com e os resultados foram os mesmos.
A
quantidade de metanol gerada pela ingestão uma lata de refrigerante diet
é de cerca de 20mg. Volumes equivalentes de suco de fruta e bebidas alcóolicas
produzem, respectivamente, 40mg e cerca de 60 a 100mg. (7, 8)
Quanto
à dicetopiperazina, não existem evidências experimentais
de que esta substância induza a formação de câncer.
Além
do metanol, os principais produtos do metabolismo do aspartame são os
aminoácidos que o compõem, a fenilalanina e o ácido aspártico.
A liberação de fenilalanina faz com que algumas pessoas realmente
possam apresentar reações ao uso do aspartame, como aquelas que
sofrem de fenilcetonúria. Daí aquele aviso em todas as latas de
Coca-Cola light: "Atenção fenilcetonúricos, este produto
contém fenilalanina". Na realidade, os fenilcetonúricos devem
evitar o consumo de fenilalanina proveniente de qualquer fonte e não
somente de aspartame. Cada lata de refrigerante diet ingerida libera cerca de
100mg de fenilalanina comparados com 300mg a partir de um ovo, 500mg de um copo
de leite e 900mg de um hambúrger. (9)
O
ácido aspártico, um aminoácido encontrado em qualquer fonte
de proteína, realmente pode causar danos cerebrais, mas somente em altas
doses e, segundo o FDA, as pessoas consomem em média de 4 a 7% da quantidade
máxima recomendada.
Ah,
sim, tem a teoria da conspiração: o FDA, o governo americano,
os médicos e as publicações científicas estão
de conluio com as empresas fabricantes para que eles continuem comercializando
seus produtos. Por outro lado, algumas das alternativas naturais consideradas
seguras em relação ao aspartame, como por exemplo a stevia, não
são aprovadas pelo FDA como aditivo para comida. Contra a stevia pesa
o fato de não existirem estudos suficientes que comprovem sua segurança.