Teste feito por uma associação de defesa do
consumidor com seis tipos de shakes vendidos como substitutos de uma ou duas
refeições diárias mostrou que os produtos são desbalanceados
quando comparados com as quantidades de nutrientes de uma refeição
equilibrada. Analise da Pro Teste mostra que eles têm excesso de proteínas
e carboidratos, e pouca gordura - o que, a longo prazo, pode gerar carências
nutricionais.
Para especialistas, os shakes são indicados só sob orientação
nutricional, e apenas em alguns casos, pois dentro de um programa individual
esse desequilíbrio é compensado com outros alimentos. Segundo
eles, não é recomendável fazer dieta com a bebida sem acompanhamento.
Os fabricantes afirmam que os shakes seguem as normas da Agencia Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa), que não estipula quantidades
para todos os componentes de “alimentos para controle de peso”.
Por isso, garantem um emagrecimento sem riscos se usados corretamente.
Mesmo assim, o assunto fez com que os conselhos regionais e federal de nutrição
criassem um grupo que discute em quais situações o produto pode
ser indicado. O motivo foram as muitas reclamações sobre as propagandas
- muitas prometendo milagres.
A própria análise da Pro Teste foi feita a pedido dos associados,
alguns pais de adolescentes que tomam os shakes, que queriam saber mais sobre
o produto. “Nenhum deles segue o balanço energético de uma
refeição que supra as necessidades de uma pessoa, mesmo em dieta”,
explica Alessandra Macedo, coordenadora da Área Técnica da Pro
Teste.
“Eles trazem uma quantidade às vezes grande de carboidratos, para
dar mais sabor, o que vai contra o emagrecimento. E tem muito poucas fibras,
necessárias para o organismo. Assim, o uso continuo pode gerar carências
nutricionais”, diz. No entanto, todos seguiam corretamente as quantidades
de vitaminas e minerais. E em nenhum foram encontrados microrganismos que mostrassem
falta de higiene. Foram analisados Bio Slim, Diet Shake, Diet Way, Herbalife,
In Natura e Slim Fast.
“Os shakes estão dentro da regulamentação da lei
brasileira. Se a norma não é adequada, isso deve ser questionado
nos órgãos fiscalizadores. Uma vez que a lei nos autoriza a fazer
dessa forma, com essa classificação, nossos produtos são
regulares e não podem ser questionados”, afirma a assessora jurídica
Patrícia Fukura, da Associação Brasileira da Industria
de Alimentos Dietéticos, para Fins Especiais e Suplementos Alimentares
(Abiadsa).
Vendidos em supermercados, farmácias e até em sites, os shakes
são misturas em pó ou prontas para beber, com 200 kcal a 400 kcal.
“Eles são totalmente desbalanceados. Uma pessoa não pode
tomar dois shakes por dia porque vai ter um índice de calorias muito
baixo e falta de nutrientes”, afirma a nutricionista Daniela Silveira,
pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “A
pessoa emagrece enquanto toma. Assim que parar engorda de novo”.
Segundo ela, mesmo para quem está de dieta, a proporção
da pirâmide alimentar não deve ser modificada, ou a pessoa poderá
ter problemas de intestino, colesterol, se sentir fraca ou perder massa muscular.
“Precisamos de cerca de 55% de carboidratos, 15% de proteínas e
30% de gordura. Em uma dieta, restringimos as quantidades, mas mantemos a proporção”.
Mesmo assim, eles podem fazer parte de um plano elaborado por um profissional.
“São produtos aprovados no País. Mas devem ser indicados
por nutricionistas, que vão suprir as carências com outros alimentos”,
diz a nutricionista Vanderli Marchiori, colaboradora da Associação
Paulista de Nutrição.
A polemica, para o endocrinologista Walmir Coutinho, presidente da federação
Latino-Americana de Sociedades de Obesidade, mostra que só mesmo a reeducação
alimentar pode garantir emagrecimento seguro e duradouro. “Um tratamento
deve ser baseado na mudança de estilo de vida e não apenas no
uso desses substitutivos”.