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18/12/2021
Vacina: A importância da 3ª dose

Uma pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) mostra que a terceira dose da vacina contra a Covid-19 promove uma resposta ainda mais rápida do sistema imunológico do que a imaginada. Em geral, a vacinação faz com que anticorpos sejam produzidos cerca de 15 dias após a inoculação da segunda dose. Mas, com a terceira dose, esse prazo cai para sete dias, segundo o novo estudo, que evidencia a potência das vacinas num momento em que o mundo teme a emergência da Ômicron.

À frente da análise, o professor de imunologia e coordenador do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ Orlando Ferreira acredita que, dificilmente, as vacinas deixarão de ser efetivas, mesmo com a nova variante Ômicron. O cientista explica que a defesa proporcionada pelas vacinas é ampla. 

Mesmo que parte da eficácia seja reduzida, ainda haverá proteção. E uma terceira dose, de fato, reforçará essas defesas. “Para as vacinas se tornarem ineficazes, o novo coronavírus precisaria mudar completamente e esse não é o caso, agora. Temos que lembrar que o objetivo principal da vacinação contra o SARS-CoV-2 é evitar os casos graves e mortes, e isso os números diários da pandemia nos mostram que está sendo alcançado”, enfatiza Ferreira.

O estudo foi realizado com 250 pessoas que tomaram as três doses de vacina (duas de CoronaVac e o reforço com a Pfizer) a partir da análise da produção de anticorpos neutralizantes, aqueles que, de fato, impedem que o vírus entre em nossas células. Todas apresentaram anticorpos neutralizantes, no máximo, sete dias após a dose de reforço. É um resultado expressivo e positivamente surpreendente, segundo os pesquisadores. 

A análise da terceira dose integra um estudo maior realizado no Centro de Triagem e Diagnóstico da UFRJ, coordenado pela professora Terezinha Castiñeiras. O CTD tem vacinado e testado profissionais de saúde e de outras áreas da rede pública com alta exposição ao novo coronavírus, desde março de 2020. O grupo de 250 pessoas com a terceira dose faz parte de outro maior, com 620 pessoas, acompanhadas com testes regulares, desde o início da vacinação. “Temos confiança em nossos dados porque monitoramos a evolução dos anticorpos desses voluntários, desde o início”, explica Ferreira. 

Ele destaca que a vacinação não bloqueia a transmissão. Porém, como quase sempre impede o agravamento da Covid-19, o vírus continua a circular em casos assintomáticos e leves, que passam despercebidos. E pode matar ou adoecer com gravidade caso infecte um vulnerável, em especial pessoas com comorbidades e idosos. 

Como as defesas adquiridas contra a Covid-19, tanto por vacina quanto por adoecimento prévio, se enfraquecem com o tempo, precisam ser renovadas por doses de reforço. O tempo de duração da imunidade varia entre indivíduos, mas, após seis meses, quase todo mundo perdeu anticorpos neutralizantes. “A terceira dose levanta de novo barreiras potentes. Ela não aumenta a qualidade, mas a quantidade de defesas”, frisa Ferreira. 

Isso acontece porque a qualidade do treinamento proporcionado pelas vacinas permanece. A defesa promovida pelas vacinas é mais vasta do que apenas a produção de anticorpos. Células de memória imunológica são produzidas e estocadas. Elas são permanentes e podem, potencialmente, ampliar o leque de anticorpos específicos contra o vírus.

Isso significa que funcionam como uma reserva estratégica, capaz de reconhecer pequenas alterações no vírus e, portanto, atuar contra as variantes. “Precisaria haver uma transformação completa do vírus para que essas células de memória não fossem capazes de reconhecer o Sars-CoV-2”, observa o cientista. 

Além disso, de acordo com ele, ao fazer o corpo produzir mais anticorpos rapidamente, a terceira dose da vacina também aumenta a munição do organismo, mesmo que o inimigo seja uma variante repleta de mutações, caso da Ômicron. 

O estudo com outras variantes mostrou, até agora, que uma determinada quantidade de anticorpos eficaz contra o vírus de Wuhan (a cepa original do novo coronavírus), por exemplo, não é suficiente para bloquear completamente uma variante. “A título de exemplo, digamos que antes você precisasse de 100 anticorpos para atacar a cepa de Wuhan. Agora, com mais mutações seriam necessários 1.000. É essa vantagem quantitativa que a dose de reforço vai lhe proporcionar”, diz Ferreira.

Ele explica que o ideal seria que as vacinas contra a Covid-19 tivessem como alvo regiões menos suscetíveis a mutações do genoma do novo coronavírus. Porém, isso não foi ainda alcançado. Ele pondera que uma vacina específica contra a Ômicron, por exemplo, não é necessariamente a única opção, pois pode deixar flancos expostos a outras variantes. Seja porque as antigas não desapareceram completamente, ou porque novas, muito provavelmente, surgirão. “O que precisamos ter em mente é que as vacinas continuam a ser armas poderosíssimas contra a pandemia”, ressalta Ferreira.

A dose de reforço é importante não só para elevar a barreira de defesa de indivíduos idosos ou com comorbidades, mas também como opção de combate à transmissão viral. 

Ele diz que, apesar de não impedirem a infecção, elas limitam a capacidade de o vírus se disseminar. Fazem isso porque reduzem a janela de transmissão. A pessoa é infectada, mas como o seu sistema imunológico ataca e derrota o vírus, ele permanece menos tempo em suas vias respiratórias e, com isso, tem menos oportunidade de ser transmitido.

À medida que mais e mais indivíduos são vacinados, o novo coronavírus encontra cada vez menos janelas abertas e a transmissão é significativamente reduzida. Mas, como as defesas oferecidas pelas vacinas se enfraquecem com o tempo, precisamos de doses de reforço para que o vírus não encontre oportunidade para voltar a se espalhar.

Assim, cientistas consideram que o, mais provável, é que tenhamos que conviver com as vacinas para sempre, para que o vírus não tenha qualquer chance. 

Ferreira lembra que há muito o que ainda não se sabe não apenas sobre a Ômicron, mas sobre a imunidade humana ao novo coronavírus. Ele diz que nem todas as pessoas precisariam de uma terceira dose porque nem todas são tão vulneráveis. “Eu, pessoalmente, preferiria que o mundo todo tivesse duas doses, isso seria globalmente mais efetivo e justo”, afirma o cientista. 


Texto copiado de:
https://revistacenarium.com.br/estudo-mostra-que-terceira-dose-e-rapida-e-eficiente-contra-novos-surtos-de-covid-19-2/

 



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