Ninguém esperava que as quatro jovens vivessem muito tempo. Elas tinham um raro tipo de câncer nos ovários, agressivo e letal. Não existia um tratamento-padrão para o seu caso.
As jovens, que não se conheciam e são de países diferentes, pediram aos seus médicos que tentassem novos medicamentos. A resposta que receberam foi que as drogas não funcionariam contra seu tipo de câncer.
Entretanto, parece que os médicos estavam errados: elas tomaram os medicamentos e seu câncer regrediu.
O fato deixou os médicos atônitos. Se os pesquisadores descobrirem o que aconteceu, poderão abrir as portas a novos tratamentos contra uma variedade de outros tumores anteriormente considerados resistentes à imunoterapia.
"Ainda não conhecemos a história toda do que faz os tumores serem reconhecidos pelo sistema imunológico", disse Jedd Wolchok, especialista do Memorial Sloan Kettering Cancer Center de Nova York. "Precisamos estudar as pessoas dotadas de uma biologia que vai contra as generalizações convencionais".
Quatro mulheres não chegam a constituir um teste clínico. Entretanto, "são as exceções que nos dão as melhores soluções", disse Drew Pardoll, especialista da Johns Hopkins Medicine de Baltimore, Maryland.
Oriana Sousa, 28, voltou a ter uma vida normal depois que seus tumores regrediram graças ao tratamento. Foto: Daniel Rodrigues para The New York Times
Douglas Levine, diretor de oncologia ginecológica do Langone Medical Center, da Universidade de Nova York, especializou-se em câncer hipercalcêmico das pequenas células do ovário. Alguns anos atrás, ele descobriu que o câncer era provocado por uma única mutação genética. A descoberta não foi muito útil para as pacientes - não havia qualquer medicamento que pudesse ajudar a combatê-lo.
Algumas mulheres com este tipo de câncer do ovário compartilharam a notícia em um grupo fechado do Yahoo. Levine pediu para entrar no grupo e participou das discussões. Desse modo, ele descobriu as pacientes que haviam convencido os médicos a ministrar-lhes um medicamento de imunoterapia, embora não houvesse razão para se pensar que poderia funcionar. Elas afirmaram que o tumor regrediu imediatamente.
A finalidade da imunoterapia é desmantelar um escudo molecular que alguns tumores usam para evitar um ataque das células brancas do sangue. O sistema imunológico vê estes tumores como algo externo - eles são alimentados por centenas de mutações genéticas que promovem seu crescimento e são reconhecidas pelo organismo. Mas quando as células brancas do sangue atacam as células do câncer, elas se revoltam, rejeitadas.
Os medicamentos de imunoterapia furam este escudo protetor, permitindo que o sistema imunológico destrua as células cancerosas. Entretanto, as novas drogas não funcionam contra tumores mais comuns.
Estes tumores são estimulados por um número menor de mutações genéticas, e especialistas afirmam que as células tumorais não parecem suficientemente ameaçadoras para o corpo produzir uma resposta. Por isso não são atacadas.
O câncer de pulmão, um tipo genético de câncer colorretal e o melanoma apresentam inúmeras mutações, e as drogas de imunoterapia frequentemente conseguem eliminá-los. O câncer de próstata, de pâncreas, de mama e de ovários - e a maioria dos outros tumores - apresentam poucas mutações.
A ideia de que os medicamentos pudessem funcionar no caso do câncer do ovário hipercalcêmico, alimentado por apenas uma mutação genética, não fazia sentido.
Então vieram as mulheres. Oriana Sousa, 28, uma psicóloga de Marinha Grande, Portugal, descobriu que estava com câncer do ovário em dezembro de 2011. Nenhum tratamento funcionou para ela. "Sofri muito", contou. Em 2015, convenceu um médico a tratá-la com um medicamento de imunoterapia.
Imediatamente, seus tumores regrediram e continuaram regredindo com a droga. Seus médicos agora afirmam que ela não tem qualquer traço da doença. E sua vida voltou ao normal.
"Em geral, depois do trabalho, vou para a academia", disse ela. "As pessoas que não sabem o que eu passei nem imaginam que eu seja uma paciente de oncologia".
Drew Pardoll e Padmanee Sharma, do M.D. Anderson Cancer Center de Houston, agora pretendem realizar novos testes.
Eles sabem que a imunoterapia não é bem-sucedida na maioria dos pacientes, mesmo os que têm câncer com maiores probabilidades de responder. Por isso, decidiram criar um teste para determinar os que poderão reagir à imunoterapia e então tratá-los - independentemente do seu tipo de câncer.
No estudo de Sharma, os pesquisadores analisam slides da patologia dos pacientes de tumores para ver se as células brancas estão penetrando no câncer. Se estiverem, os pacientes receberão uma droga de imunoterapia para ajudar a ativar suas células brancas do sangue a atacar o tumor.
Pardoll e outros estudam os tumores - não importa o tipo - que têm uma proteína, a PD-L1, na superfície que repele o sistema imunológico. Os pacientes com estes tipos de tumores receberão um droga de imunoterapia.
É um tiro no escuro. Mas às vezes este tiro atinge o alvo, como disse Oriana:
"Acontecem coisas incríveis, e contra todas as probabilidades".